Uma questão de tom: Primatas machos têm vozes mais graves para manter rivais longe das fêmeas
Entre os primatas, incluindo a espécie humana, os indivíduos do sexo masculino têm um tom de voz, por norma, mais grave do que os do sexo feminino, e durante algum tempo dominava a ideia, ainda que não provada, de que as vocalizações em frequências mais baixas serviriam para intimidar os rivais e atrair as fêmeas.
Uma nova investigação, publicada na revista ‘Nature Communications’, não apenas vem reforçar essa ideia, como sugere que as vozes mais graves dos primatas machos evoluíram, por seleção natural, em grupos em que alguns machos têm acesso a múltiplas fêmeas, um sistema também conhecido como poliginia.
“É uma diferença entre sexos que surge com a maturidade sexual em várias espécies e provavelmente influencia o sucesso reprodutivo ao atrair parceiros ou intimidar concorrentes”, explica David Puts, da Universidade Estadual da Pensilvânia, e um dos principais autores do artigo.
“Os humanos e muitos outros primatas são altamente comunicativos, especialmente através da comunicação vocal”, salienta o antropólogo, acrescentando que o tom de voz é, por isso, “um traço realmente relevante para refletir sobre o comportamento social dos humanos e dos primatas no geral”.
Através da gravação e análise de vocalizações de primatas como gorilas, chimpanzés e, claro, humanos, de ambos os sexos, e de grupos monogâmicos, poliginândricos, em que machos e fêmeas têm vários parceiros, e poligínicos, os investigadores concluíram que quanto mais fêmeas existirem num grupo, maiores são as diferenças entre o tom de voz dos machos, mais grave, e das fêmeas, mais agudo. Essas diferenças são mais notórias, argumentam os cientistas, em grupos poligínicos.
Toe Aung, investigador da Immaculata University e primeiro autor do artigo, acredita que a investigação mostra “o papel importante da seleção sexual” e “fornece explicações evolutivas para o porquê de machos e fêmeas entre os primatas diferirem em tons de voz”.
Os autores deste trabalho dizem que, combinado com um corpo robusto e outros traços físicos, um tom de voz grave permite aos machos afastarem rivais sem terem de se envolverem, e arriscar a sua segurança e vida, em confrontos violentos.
Além disso, defendem ainda que, apesar de monogamia ser “realmente comum” nas sociedades humanas, as vocalizações dos homens adultos estão, em média, na casa dos 120 hertz, algo que, segundo eles, colocaria a nossa espécie na categoria da poliginia.
“O acasalamento e a reprodução dos nossos antepassados era substancialmente poligínica”, refere Puts, reiterando que a investigação “ajuda-nos a perceber a razão pela qual as vozes dos machos e das fêmeas da nossa espécie diferem tão drasticamente”.
“Pode ser um produto da nossa história evolutiva, particularmente da nossa história de vivência em grande grupos nos quais alguns machos se reproduziam com múltiplas fêmeas”, observa.