Cientistas na Alemanha arriscam detenção em protesto pelo clima
Mais de 100 cientistas e académicos de 12 países vão arriscar detenção na Alemanha para exigir que o governo deste país admita que permanecer abaixo do limite de aquecimento global de 1,5°C é uma meta inatingível.
Os cientistas são membros do grupo de ação climática Scientist Rebellion. Sob o slogan Unite-Against-Climate-Failure (Juntos contra o Falhanço Climático), estes estão a planear uma campanha de desobediência civil não-violenta em Berlim e na Baviera a partir de 16 de outubro.
Em comunicado, o grupo explica que a Alemanha foi escolhida para esta ação “já que é um dos países mais poderosos na União Europeia e um dos estados mais ricos do mundo”. Segundo a mesma fonte, apesar deste país dever muito do crescimento da sua economia ao uso de combustíveis fósseis e à exploração de recursos, “continua a não cumprir com as suas metas climáticas e de biodiversidade”.
Bióloga portuguesa junta-se ao protesto
Teresa Leonor Santos, bióloga, e uma das cientistas da SR Portugal que se vai juntar a esta ação na Alemanha, explica que “somos cientistas forçados a recorrer à desobediência civil porque não há outra escolha. O nosso objetivo é mostrar ao governo alemão que ele tem a oportunidade de se confrontar com a realidade dos factos na COP27 no próximo mês.”
“Ao admitir o fracasso climático, o governo alemão pode redefinir a sua política e o seu discurso sobre as mudanças climáticas e assim tornar-se num dos líderes mundiais nesta questão. Mas, para isso acontecer, os políticos devem ser honestos para com o público e admitir que o limite de 1,5°C de aquecimento global já não é viável”, acrescenta Sara Gaspar, bióloga e ativista da SR Portugal, que também estará presente na ação.
Já o cientista climático dos EUA e membro da Scientist Rebellion, Dr. Peter Kalmus, diz que não vê “evidências de que os líderes mundiais se estejam a preparar para fazer as mudanças radicais necessárias para limitar o aquecimento a 1,5°C. É a altura de admitir ao público que não há caminho viável para permanecer abaixo deste limite, mesmo que em termos científicos continue a ser geofisicamente possível”.
Para o grupo, os governos dos vários países “estão a quebrar o compromisso celebrado no Acordo de Paris de não olhar a meios para permanecer abaixo do limite de 1,5°C de aquecimento global”.
As emissões globais atingiram um máximo histórico em 2021, enquanto os governos “gastaram mais em subsídios para as indústrias de combustíveis fósseis em 2021 do que em 2015, quando o Acordo de Paris foi assinado”, argumentam.
Antes da sua campanha na Alemanha, a Scientist Rebellion contactou quase 2.000 cientistas, académicos e figuras de confiança pública acerca das alterações climáticas. Todos foram encorajados a apoiar a consciencialização do público de que o limite de aquecimento global de 1,5°C é um objetivo falhado.
Ações de desobediência civil não violentas até ao final de Outubro
Na Alemanha, a Scientist Rebellion vai agir em coligação com outros grupos de ação climática, como a Last Generation, Debt for Climate e a End Fossil Occupy, com a bandeira Unite-Against-Climate-Failure. A aliança vai desenvolver ações de desobediência civil não violentas até ao final de Outubro. Os participantes exigem que o governo alemão admita o Falhanço Climático e que a meta de limitar o aquecimento global até aos 1,5ºC de aquecimento vai ser ultrapassada, o que nos coloca numa situação de emergência
A nível global, a Unite-Against-Climate-Failure exige também que o governo alemão peça ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial que perdoe as dívidas do Sul Global à medida que ultrapassamos o grau e meio de aumento de temperatura. Esta medida possibilitaria a transição para um mundo mais sustentável, ajudando a evitar mais catástrofes climáticas.
Exigimos também que a Alemanha seja líder na descarbonização do setor dos transportes. Isto passa por impor limites de velocidade nas autoestradas alemãs, mas também pelo regresso imediato dos passes de 9€ para os transportes públicos.