Tecnologia para tratar efluentes da produção de azeite desenvolvida em Tondela
A necessidade de tratar eficientemente os efluentes e as águas residuais das unidades de produção de azeite levou a empresa Tojaltec, de Tondela, e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) a desenvolverem a tecnologia AmbiVap.
“Verificando os processos que existiam, confirmámos que o único que está a ser utilizado de forma cabal e por quase todas as unidades são as lagoas de evaporação”, explicou o investigador João Claro, da UTAD.
Nessas lagoas ou tanques de retenção que existem junto às unidades de produção, os efluentes e as águas residuais vão-se acumulando durante a campanha do azeite, no outono e inverno, e depois, naturalmente, vão evaporando com o sol durante a primavera e o verão.
A tecnologia AmbiVap também usa o processo de evaporação, mas otimiza-o, criando um sistema de aproveitamento de energia solar que o acelera.
“Se nós compararmos a área de exposição ao sol e a evaporação que estamos a conseguir, estamos a aumentar 200, 300 vezes ou mais”, estimou João Claro.
O docente do Departamento de Química da UTAD explicou que, atualmente, “o processo de transformação do azeite é chamado um processo de duas fases”, do qual resulta o azeite e o bagaço húmido.
No entanto, “existem sempre escorrências, águas de lavagem, que provocam um efluente ainda rico em compostos orgânicos, as famosas águas ruças”, com uma carga orgânica muito elevada, “cerca de 200 vezes superior” à do esgoto doméstico.
“Como é sazonal, é muito concentrado e causa tremendos problemas ambientais, não pode ser descartado num coletor municipal. Estamos muito acima da carga orgânica máxima permitida, mas muito acima mesmo”, alertou.
O que acontece muitas vezes, segundo o investigador, é que não evapora toda a quantidade de efluente que é produzida durante a campanha do azeite.
“Vamos tendo acumulação de águas e a necessidade de ir aumentando as lagoas de evaporação, a capacidade de retenção, os depósitos, ou então pagando a uma empresa que faça o tratamento para poder descartar este efluente”, contou.
João Claro exemplificou com a “imagem impressionante” das lagoas de evaporação de águas ruças existentes em Espanha, visíveis em fotografias aéreas.
De acordo com o investigador, os processos térmicos podem acelerar a evaporação, mas, sobretudo no momento atual, “pagar energia para estar a aquecer as águas e fazê-las evaporar” torna-se incomportável.
Com a tecnologia AmbiVap, que começou a ser desenvolvida em 2018, basta a radiação solar entrar nos cinco coletores em série para que aconteça a evaporação de forma mais acelerada.
“Temos de estar na eficiência máxima em todos os momentos. Na mínima área possível, estar a fazer a receção do máximo de radiação solar possível”, referiu.
Os coletores (em formato de funis gigantes) “estão sempre alinhados, mesmo que passe uma nuvem eles mantêm-se”, porque, nos 365 dias do ano, “têm as coordenadas da posição do sol”, acrescentou.
Segundo o investigador, a tecnologia tem ainda outra vantagem comparativamente às lagoas de evaporação: “Nessas águas ruças vai sempre alguma quantidade de gordura, de azeite”, que “cria uma película à superfície que ainda dificulta a evaporação”.
“Neste caso [da tecnologia AmbiVap], além de otimizarmos muito o processo de evaporação, não temos esse problema. O nosso efluente entra em contacto direto com o permutador de calor, onde é feita a transferência de calor, ele aquece de forma eficiente para depois ser evaporado”, explicou.
A tecnologia AmbiVap venceu, em 2018, um prémio no concurso 4INOVA e depois recebeu um financiamento do COMPETE 2020 – um investimento elegível de 311 mil euros, que resultou num incentivo FEDER de cerca de 215 mil euros – que permitiu fazer a linha de evaporação de cinco coletores em série.
O proprietário da empresa de máquinas industriais Tojaltec, Cândido Roque, disse à agência Lusa que, consoante a quantidade de efluentes e águas residuais, uma unidade de produção de azeite teria de investir “entre os 30 e os 50 mil euros” para ter esta tecnologia.
Os cinco coletores em série (cada um tem o potencial de aumentar em cerca de 20 graus a temperatura) são “a unidade básica”, sendo depois preciso ver se será apenas preciso uma ou várias.
João Claro avançou que, para além do tratamento dos efluentes e das águas residuais das unidades de produção de azeite, esta tecnologia pode ser usada para aquecimento de águas.
“Durante o desenvolvimento do projeto, percebemos que muitas empresas utilizam água para a produção do vapor ou utilizam águas quentes para algum processo”, contou o docente, acrescentando que, neste âmbito, “poderá ser também uma solução interessante para quem pretenda águas a uma determinada temperatura”.
Cândido Roque explicou que, neste momento, estão a acabar de ser processados “os dados que foram sendo obtidos pelo sistema protótipo” e que o futuro dependerá do mercado.
“Mediante esses dados, vamos ver que potenciais de melhorias existem no sistema e depois o futuro é apresentar isto a potenciais clientes ou propor a investidores que queiram olhar para a tecnologia e, percebendo que há futuro, queiram fazer algum investimento para escalar este negócio e para tornar isto eventualmente numa empresa nova”, afirmou.