Embaixador argelino em Lisboa relativiza exportações de gás para Portugal
O embaixador da Argélia em Lisboa relativizou hoje as exportações de gás para Portugal e sublinhou que as trocas comerciais bilaterais não se resumem apenas aos hidrocarbonetos, face à presença de cerca de 80 empresas portuguesas no país.
Numa entrevista à agência Lusa em Lisboa, onde se encontra desde dezembro de 2019, terminando a missão na primeira semana de novembro próximo, Abdelmadjd Naamoune garantiu que a cooperação com Portugal sempre foi excelente a todos os níveis e que Argel e Lisboa vão aprofundar em 2023 as relações bilaterais na reunião da comissão mista, a realizar na capital argelina numa data a anunciar.
Escusando-se a falar sobre as trocas comerciais de hidrocarbonetos, Naamoune lembrou que as relações comerciais e económicas com Portugal ultrapassaram, em 2021, os 1.100 milhões de euros, muito graças à diversificação da cooperação e dos negócios.
“Nem tudo [são exportações de hidrocarbonetos]. Temos cerca de 80 empresas portuguesas na Argélia nos mais diferentes domínios, como energia, construção, agricultura, muitos outros domínios, muitas empresas ativas e estamos muito satisfeitos com as empresas portuguesa”, argumentou.
“Não me focaria só no gás ou no petróleo. Na última reunião entre os dois ministros [dos Negócios Estrangeiros português e argelino, no início deste mês, em Argel] o foco nas novas ações de cooperação ao nível da energia, novas tecnologias, a transição energética ou o hidrogénio verde foram alvo de discussões, ao lado de outras questões como a cooperação na administração, economia do conhecimento, ‘startups’, a pesca”, explicou Naamoune.
Segundo o diplomata argelino, os dois países estão a preparar a reunião a comissão mista (a última realizou-se em 2018) para criar um quadro propício para que os operadores dos dois países possam estabelecer parcerias “win-win”, “pois há mais áreas de intervenção, uma vez que a Argélia não é só energia e petróleo”.
“A Argélia, que está a efetuar uma enorme reforma, está disposta a receber grandes investimentos que, a longo prazo, possa facilitar os investimentos. Na semana passada, foi criado o “balcão único” para facilitar os grandes investimentos estratégicos.
Há muitos domínios, como os fosfatos, a exploração mineira, que estão à disposição dos investidores para uma parceria ‘win-win’”, acrescentou o diplomata argelino.
A 05 deste mês, em Argel, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, numa reunião com o homólogo argelino, Ramtane Lamamra, manifestou o interesse de empresas portuguesas investirem na Argélia nas energias solares e eólicas, mas, à Lusa, não abordou o tema do gás.
“Não sendo um país vizinho, mas quase, partilha muitas preocupações em relação à região, ao mediterrâneo, à relação da União Europeia com África e com o mundo árabe. Foi importante para falarmos do que podemos fazer juntos num quadro de transformação geopolítica e transformação geoeconómica”, explicou, na ocasião.
João Cravinho salientou que a questão da invasão da Ucrânia pela Rússia, foi um fator “que não podia deixar de ser objeto de diálogo”, adiantando também que as “questões geoeconómicas relacionadas com a energia, com as energias renováveis e as oportunidades que aparecem com a transição digital” também foram debatidas.
“Apesar de a Argélia ser grande exportador de combustíveis fósseis é também um país com imenso potencial em matéria de energia solar e energia eólica. Temos empresas muito qualificadas nessas áreas e houve manifestação de interesse do lado argelino em [ter] investidores portugueses nessas áreas”, avançou o ministro.
Cravinho disse ainda que esta será uma matéria para trabalhar com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), com o secretário de Estado da internacionalização, bem como o ministério setorial, nomeadamente o Ministério do Ambiente e das Alterações Climáticas.
Sobre a visita de Cravinho à Argélia, Naamoune lembrou que os dois países têm um tratado de amizade assinado em Argel em 2005, realçando que as relações diplomáticas com Portugal começaram em 1975, um ano após a instauração da democracia.
“Nesse instrumento de cooperação em 2005 ficou definida a norma das relações bilaterais de 57 instrumentos jurídicos em diferentes domínios. Há uma concertação política permanente aos níveis nacional, regional e internacional e uma convergência muito forte no apoio mútuo em instituições internacionais. Aliás, congratulo-me com a excelência das relações”, sublinhou à Lusa o embaixador argelino.