O custo das alterações climáticas: Ondas de calores já causaram à economia mundial perdas de dezenas de biliões de dólares
“O aumento do calor extremo está entre os impactos mais evidentes do aquecimento global”, alertam dois cientistas da Dartmouth College, nos Estados Unidos, e destacam que a multiplicação das ondas de calor causada pelas atividades humanas tem prejudicado mais fortemente “as regiões tropicais pobres menos responsáveis pelo aquecimento”.
Com base na análise de dados económicos que abrangem cerca de 66% da população mundial, articulados com modelos climáticos, a dupla de especialistas avança que as perdas acumuladas a nível global entre 1992 e 2013 devido ao “calor extremo antropogénico” cifra-se entre os 5 biliões (trillion em inglês) de dólares e os 29,3 biliões.
Contudo, os prejuízos não se registam uniformemente em todas as regiões do planeta, sendo que para os países mais pobres, durante esse período, foi registada uma perda de 6,7% do Produto Interno Bruto per capita todos os anos ao passo que nas nações mais ricas essas perdas foram apenas de 1,5%.
“Os nossos resultados têm o potencial para informar investimentos em adaptação e demonstrar como a desigualdade global é tanto uma causa como uma consequência do fardo desigual das alterações climáticas”, escrevem os autores num artigo publicado na revista ‘Science’.
Uma das principais conclusões aponta que as “temperaturas extremas reduzem a produtividade laboral, prejudicam culturas e aumentam a mortalidade”, alertam os cientistas.
Ao calcular os impactos financeiros do calor extremo sobre infraestruturas, a agricultura, a produtividade e a saúde humana, entre outras dimensões, os cientistas revelam que “o aumento da intensidade do calor extremo diminui significativamente o crescimento económico em regiões tropicais relativamente quentes”, que “as alterações climáticas antropogénicas [isto é, causadas pela ação humana] têm aumentado a frequência e a intensidade destes extremos de calor economicamente consequentes”, e que “os efeitos das alterações climáticas no calor extremo têm amplificado a desigualdade inerente, prejudicando desproporcionadamente regiões de baixos rendimentos” e que emitem menos gases poluentes para a atmosfera.
Assim, os países dos trópicos e do chamado ‘Sul Global’, apesar de serem os menos responsáveis pelo aquecimento planetário, são os que mais sofrem com os impactos económicos dos fenómenos de calor extremo. Por serem já quentes, são mais negativamente afetados pelas ondas de calor, e por serem caracterizados por fragilidade económica estão mais suscetíveis a quebras na sua riqueza interna.
Os especialistas argumentam que já é conhecido que o aquecimento global “fez aumentar a frequência e a intensidade dos extremos de calor”, mas que o presente estudo “demonstra os custos económicos desses eventos e a sua distribuição global desigual”.
Eles dizem que esta investigação destaca a “urgência” da implementação de medidas para mitigar os impactos das alterações climáticas sobre as nações e comunidades mais afetadas pelo aquecimento global e pelas consequentes alterações climáticas e chamam ainda a atenção para a necessidade de investimentos que reforcem a capacidade de adaptação “das áreas mais pobres do mundo face aos dias mais quentes do ano”.