Países ricos têm de “aumentar exponencialmente” financiamento da adaptação para se evitar “carnificina climática” de milhões de pessoas, alerta Guterres
Os países desenvolvidos, no âmbito da cimeira mundial do clima do ano passado em Glasgow (COP26), comprometeram-se em duplicar para 40 mil milhões por ano até 2025 o apoio dado aos Estados mais pobres para que melhor se possam adaptar aos efeitos das alterações climáticas. Mas o Secretário-Geral das Nações Unidas considera que é preciso fazer mais e melhor.
António Guterres afirmou esta semana que os países mais desenvolvidos têm de “aumentar exponencialmente a quantidade e a qualidade do financiamento das necessidades de adaptação” dos congéneres menos desenvolvidos e espera que durante a COP27 que arranca na próxima semana, no Egipto, apresentem planos “credíveis” que mostrem claramente como é que pretendem concretizar os compromissos que assumiram na cimeira de 2021.
E esse financiamento deve preferencialmente tomar a forma de doações e não de empréstimos, para que os países menos desenvolvidos, e que estão na linha da frente dos impactos das alterações climáticas, não fiquem ainda mais financeiramente pressionados.
Guterres avisa também que é preciso “um novo modelo de negócio para transformar as prioridades de adaptação” em projetos que sejam considerados investimentos apelativos, recordando que não existe uma correspondência entre o que os governos propõem e o que os financiadores consideram ser projetos nos quais valha a pena pôr dinheiro.
“Precisamos de um aumento global do investimento em adaptação para salvar milhões de vidas da carnificina climática”, salienta o responsável, acrescentando que governos e investidores devem alinhar-se para que seja possível reforçar os apoios à adaptação dos países menos desenvolvidos.
Estimativas das Nações Unidas apontam para que as necessidades de financiamento da adaptação dessas nações e comunidades deverão chegar aos 340 mil milhões de euros por ano até 2030, mas o apoio dado hoje é de menos de um décimo da quantia necessária.
“As pessoas e as comunidades mais vulneráveis estão a pagar o preço”, denuncia Guterres, que sentencia que “isso é inaceitável” e que está na hora de a comunidade internacional pôr de lado “desculpas” e tratar a adaptação com “uma seriedade que reflita o igual valor de todos os membros da família humana”.
Referindo-se à COP27, o Secretário-Geral das Nações Unidas argumenta que a cimeira “deve lançar as bases para uma ação climática mais rápida e ousada”, apontando que na presente “década crucial” o “combate climático global será ganho ou perdido”.
#COP27 must be the place to rebuild trust and re-establish the ambition needed to avoid driving our planet over the climate cliff.
We need much faster, bolder #ClimateAction now. pic.twitter.com/UmXVc9mMwf
— António Guterres (@antonioguterres) November 4, 2022