Ano agrícola 2021/2022 foi o mais quente e o 3.º menos chuvoso em mais de 90 anos
A falta de chuva e as temperaturas elevadas vão levar a quebras agrícolas significativas, segundo avançou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE). No que toca à azeitona, são esperadas quebras na produção de 40% face ao ano passado, sendo que se esperam também diminuições de 45% da pêra, de 30% da castanha, de 20% na maçã, de 15% da amêndoa e de 5% do kiwi.
O passado mês de outubro é descrito como muito quente e chuvoso, com uma temperatura média que ficou 2,5 graus Celsius acima da normal do período entre 1971 e 2000. Por isso, foi o quinto outubro mais quente dos últimos 92 anos.
Quanto à precipitação, o INE avança que o valor médio foi de 121,2 milímetros, 23% acima da normal de 1971-2000, sendo que foi na região do Entre Douro e Minho onde se registaram valores “muito superiores” ao que seria de esperar.
Nesse quadro, o ano agrícola de 2021/2022, que se estendeu de 1 de novembro do ano passado a 31 de outubro do presente, “foi o mais quente desde 1931”, diz o serviço estatístico, com uma temperatura média de 16,4 graus.
E foi também o terceiro menos chuvoso desde 1931, com apenas 65% da média de precipitação dos últimos 25 anos.
A chuva diminuiu a situação de seca no país e possibilitou sementeiras de culturas forrageiras, bem como “o aumento da matéria verde destas áreas permitiu a entrada em pastoreio dos efetivos de bovinos”, mas tal não foi suficiente para assegurar “a totalidade das necessidades alimentares, pelo que a maioria destes efetivos continuou a ser suplementada com alimentos conservados em quantidades consideradas semelhantes ao período homólogo, mas bastante superiores ao habitual para a época (o que, naturalmente, poderá comprometer a disponibilidade destes alimentos ao longo dos meses de inverno)”.
No que toca à produção de azeitona, apesar de o olival tradicional ser “uma cultura predominantemente de sequeiro” e de ter uma capacidade significativa de adaptação às alterações climatéricas, “a seca afetou o seu desenvolvimento vegetativo, limitando o vingamento e o desenvolvimento dos frutos, o que levou à queda prematura da azeitona e de parte da folhagem”.
Isso levou a que muitos olivais não fossem tratados, “o que intensificou, nalgumas zonas, os ataques recentes da mosca-da-azeitona e gafa, com reflexos negativos na qualidade do azeite”, explica o INE.
Sobre a vindima de 2022, a análise aponta que “também deverá registar decréscimos (-15%), antecipando-se a produção de vinhos bem estruturados, com harmonia entre álcool, acidez, açúcares e taninos”.
Ainda assim, os estatistas consideram que “as chuvas de setembro e outubro beneficiam vindimas tardias”, desbloqueando “a paragem fisiológica nas vinhas não vindimadas, permitindo o enchimento dos bagos e o aumento do teor de açúcares, apesar de terem prejudicado o estado sanitário das uvas (nomeadamente com o surgimento de podridão cinzenta)”.