COP15: Centenas de cientistas pedem o fim da queima de árvores para gerar energia



Quase 700 cientistas de diversas de universidades e centros de investigação dos quatro cantos do planeta exigem aos líderes mundiais que abandonem a queima de madeira como forma de gerar energia.

Nas vésperas da cimeira global sobre a biodiversidade, a COP15, que arranca esta semana em Montreal, no Canadá, e apesar de reconhecerem os esforços que têm sido feitos nos últimos anos para criar uma Estrutura Global para proteger a natureza e travar a perda de espécies, habitats e diversidade genética, alertam que para o que consideram ser “uma ameaça crescente” que pode deitar por terra todos esses esforços: “o uso amplo da bioenergia florestal para gerar eletricidade e aquecimento”.

Numa carta aberta, os cientistas, incluindo cinco portugueses, dirigida a líderes mundiais, como os presidentes Joe Biden e Xi Jinping e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recordam que até ao final do século cerca de um milhão de espécies deverão estar em risco de extinção, “principalmente devido à fragmentação ou perda de habitat”.

E assinalam que “as florestas estão entre os locais mais biodiversos do planeta, servindo de habitat para incontáveis espécies”, além de serem indispensáveis fontes de oxigénio e de capturarem quase um terço das emissões de carbono geradas pela queima de combustíveis fósseis a nível global, pelo que são muitas veze consideradas os ‘pulmões da Terra’.

No entanto, os quase 700 cientistas dizem que muitos países estão a recorrer cada vez mais à biomassa florestal para alcançarem os seus compromissos de neutralidade carbónica, que os líderes consideram, erradamente, na opinião dos especialistas, que essa forma de gerar energia neutra em carbono.

E denunciam que muita da madeira usada em centrais de produção de energia provém de florestas antigas que albergam grande diversidade biológica e que são fundamentais para mitigar os efeitos nefastos das alterações climáticas.

Por isso, os signatários argumentam que, se os países aprovarem, como se espera, a estratégia global para a biodiversidade na COP15, que prevê a proteção de 30% dos ecossistemas em terra até 2030, devem também rejeitar a energia com base na biomassa.

“A melhor coisa para o clima e para a biodiversidade é deixar as florestas intactas – e a energia da biomassa faz precisamente o contrário”, avisam, deixando claro que “o objetivo de travar e reverter a perda de natureza a nível global pode fracassar devido ao aumento da pressão [da indústria da bioenergia] sobre as florestas”.

Por isso, esses cientistas sublinham que derrubar florestas para gerar bioenergia está a aumentar as ameaças a esses ecossistemas caracterizados por grande biodiversidade e por serviços que são essenciais à sobrevivência não só das populações de fauna e flora, mas também às próprias comunidades humanas. E pedem aos líderes mundiais “mudanças transformativas” para que seja possível “evitar o desastre climático e o colapso da biodiversidade”.

De acordo com a organização ambientalista WWF, a bioenergia, apesar de ser amplamente considerada uma forma ambientalmente neutra de produzir eletricidade, acarreta sérios perigos para a natureza, pois depende da queima de biomassa, árvores, para gerar energia, podendo aumentar a destruição das florestas e as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, agravando a crise climática ainda mais.





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