Tenrec: Que animal é este que se parece com um ouriço-cacheiro?
A ilha de Madagáscar, tal como muitos outros território insulares, cujas espécies evoluíram em isolamento e afastadas das pressões continentais, é um baú de peculiaridades. Além dos lémures e das fossas (Cryptoprocta ferox), celebrizados, por exemplo, nos filmes de animação, é também o lar de um animal curioso: o tenrec.
Membro da família dos Tenrecidae, este pequeno mamífero insectívoro é um madagascarense nativo, o que significa que é natural dessa ilha, embora possa também ser encontrado em territórios continentais africanos e nas ilhas Camarões.
Atualmente são conhecidas pouco mais de 30 espécies de tenrecs, agrupadas pela Ciência em três subfamílias: Geogalinae, Oryzorictinae e Tenrecinae. E apresentam tamanhos, morfologias, comportamentos e especializações ecológicas muito variadas, dependendo do nicho que ocupam, devido a um processo evolutivo divergente chamado ‘radiação adaptativa’.
A maioria dos tenrecs tem como habitat natural as florestas, o que os coloca perante um alto nível de ameaça, visto que se estima que nos últimos 50 anos Madagáscar tenha perdido cerca de 40% da sua área florestal. É por isso que a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classifica quatro espécies como ‘vulneráveis’ e duas como ‘em perigo’, sendo que sobre as restantes não existem ainda dados suficientes que permitam fazer uma avaliação concreta do seu estado de conservação.
Além disso, segundo um levantamento feito pela Universidade de Cambridge, as populações de tenrecs são também ameaçadas pela caça e pela captura acidental, e as alterações climáticas serão mais um fator de pressão que deverá fazer cair o número de tenrecs a nível global.
Algumas espécies de tenrecs, como Echinops telfairi e o Setifer setosus, têm o dorso e a cabeça cobertos de espinhos duros que lhes dão uma aparência semelhante à dos ouriços-cacheiros, mas são animais bastante diferentes, podendo também, dependendo da espécie, parecer-se com ratos ou toupeiras.
Os tenrecs alimentam-se principalmente de invertebrados, como minhocas, insetos e larvas. No entanto, algumas espécies também comem pequenos vertebrados, como crias de cobras ou anfíbios. Do outro lado da moeda, são predados por aves de rapina, por cobras adultas e pelas fossas, mas podem também ser caçados por gatos e cães domésticos. E o canibalismo é também outra ameaça, pois alguns membros maiores de tenrecs podem comer outros mais pequenos da mesma espécie, segundo explica o Museu de História Natural de Londres.
Outra espécie, Hemicentetes semispinosus, também está coberta de espinhos, amarelos e pretos, que usa como defesa contra potenciais predadores. Mas esse animal também utiliza esses espinhos para um fim singular.
Tal como as cigarras friccionam as asas uma na outra para produzirem som, também o H. semispinosus fricciona um grupo de espinhos no dorso para produzir um ruído ultrassónico, que os humanos não conseguem ouvir, usado para comunicar com outros membros da sua espécie, especialmente quando caminham por florestas densas e precisam de dar a conhecer o paradeiro aos companheiros de viagem.
Outra espécie distingue-se com uma capacidade diferente. O Tenrec ecaudatus, que pode atingir o tamanho de um cão pequeno, pode dar à luz até 30 crias de uma só vez e as fêmeas têm 36 mamilos, mais do que qualquer outro mamífero.
Os especialistas acreditam também que alguns tenrecs podem usar sistemas de ecolocalização para encontrar presas, tal como os morcegos, embora ainda não tenha sido provado sem margem para dúvidas.