Brasil: Governo Lula denuncia “genocídio” e “crimes ambientais” nas terras indígenas Yanomami
Este sábado, dia 21, o Presidente brasileiro Lula da Silva deslocou-se numa visita oficial às terras do povo indígena Yanomami, no estado federal de Roraima, no norte do Brasil, acompanhado por uma comitiva governamental, que incluiu as ministras da Saúde, Nísia Trindade, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
Nessa região do país, decorre uma “grave crise de desassistência sanitária e nutricional dos povos que vivem no território Yanomami”, afirmou o governo federal, em comunicado, apontando que está já a ser tomada “uma série de medidas”.
Esse povo indígena tem enfrentado uma situação prolongada de subnutrição, que é atribuída à extração ilegal de minerais, o garimpo, que recorre a mercúrio que tem poluído os corpos de água dos quais essas pessoas dependem para se alimentar e para matar a sede, e que tem contaminado os solos. O mercúrio é usado na extração de ouro, particularmente por explorações de pequena escala, como é o caso do garimpo ilegal, pois une-se às partículas de ouro suspensas na água, formando um aglomerado do qual será depois extraído o metal precioso.
A ministra Guajajara, no Twitter, escreve que, durante o governo de Jair Bolsonaro, 570 crianças Yanomami terão morrido de fome.
É muito triste saber que indígenas, sobretudo 570 crianças Yanomami, morreram de fome durante o último Governo. O Ministério dos Povos Indígenas tomará medidas urgentes em torno desta crise humanitária imposta contra nossos povos.#SOSYanomami #LutaPelaVida
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) January 20, 2023
“Vamos levar muito a sério essa história de acabar com qualquer garimpo ilegal”, garantiu Lula da Silva durante a visita, acrescentando que “mesmo que seja uma terra que tem autorização [do regulador] para fazer pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, sem destruir a floresta e sem colocar em risco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver”.
“Vamos tratar os nossos indígenas como seres humanos. Nós vamos dar a eles a dignidade que eles merecem, na saúde, na educação, na alimentação e no direito de ir e vir. Essas pessoas vão ser tratadas decentemente”, declarou.
Num encontro com o Presidente brasileiro, Davi Kopenawa, xamã e líder indígena, afirmou que a prioridade do novo governo deverá ser “tirar os invasores, o garimpo ilegal”, pois “se não tirar, a doença continua, assim como a destruição e a poluição”.
De acordo com informações divulgadas pelo governo, na Casa de Saúde Indígena Yanomami, um centro que presta cuidados de saúde aos membros desse grupo, estão internados “adultos com peso de crianças e crianças em pele e osso”.
Até sexta-feira, deverá ser instalado em Boa Vista, cidade capital do estado de Roraima, um hospital de campanha com o objetivo de prestar cuidados de saúde urgentes aos indígenas. Além disso, serão distribuídos bens alimentares aos Yanomamis, bem como “200 latas de suplemento alimentar para crianças”, anunciou o governo.
Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), organização que reúne estruturas regionais indígenas, “o território Yanomami é considerado a maior reserva indígena do Brasil”, onde operam perto de 20 mil garimpeiros ilegais.
A APIB diz que “a invasão do garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami foi denunciada pelo menos 21 vezes à justiça”, mas que “o governo Bolsonaro se negou a seguir as determinações da justiça para tomar medidas urgentes sobre o garimpo ilegal”.
“A extração de minerais dentro da TI não só contamina rios e pessoas, como também destrói florestas e afeta o modo de vida indígena, impondo restrições à circulação dentro das suas próprias terras”, alerta a organização, que assinala que “a morosidade do governo brasileiro em responder aos inúmeros pedidos de socorro gerou o estado crítico em que as comunidades se encontram atualmente”.
O ministro Wellington Dias, responsável pelas pastas do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, declarou que “é uma vergonha presenciarmos indígenas morrendo de fome no país que é o quarto maior produtor de alimentos do mundo”, classificando o que está a acontecer nas terras dos Yanomamis como “genocídio”.
Por sua vez, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que será aberta uma investigação “para apurar o crime de genocídio e crimes ambientais no território indígena Yanomami”.
No Twitter, o Presidente Lula da Silva alertou que “o que vi em Roraima foi um genocídio. Um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento do povo brasileiro”, e que “já ouvi que no Brasil há muita terra para poucos indígenas, e que indígenas estão ocupando o território brasileiro. Mas essas pessoas esquecem que em 1500 os povos originários eram donos de todo o Brasil. Nós é que estamos ocupando o que pertence aos primeiros habitantes do país”.
Mais que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio. Um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento do povo brasileiro.
📸: @ricardostuckert pic.twitter.com/Hv5vrYw477
— Lula (@LulaOficial) January 22, 2023