Alterações climáticas e perda de habitat ameaçam mamíferos na Amazónia. Mesmo os mais adaptáveis
As florestas tropicais da Amazónia são dos locais mais biologicamente diversos de todo o planeta, albergando muitas espécies que não se encontram em qualquer outro lugar. Mas essa diversidade está ameaçada pela ação humana, direta ou indireta.
Investigadores da Universidade da Califórnia, num artigo divulgado na publicação científica ‘Animal Conservation’, alertam que os mamíferos da Amazónia brasileira (recorde-se que a floresta abrange o Brasil, a Bolívia, o Peru, o Equador, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana e o Suriname), estão sob a ameaça das alterações climáticas e do fenómeno de ‘savanização’, através do qual a vibrante floresta tropical está a ficar mais seca, adotando características de outro bioma: a savana.
Daniel Rocha, principal autor do artigo, explica que “a biodiversidade da Amazónia é muito suscetível aos efeitos das alterações climáticas” e, pintando um quadro mais negro do que se poderia pensar, aponta que “não podemos travar isso apenas através da força da lei”. Para o cientista, até as áreas protegidas podem estar a falhar na sua missão para proteger as espécies amazónicas.
A desflorestação e as mudanças no clima e nos padrões de precipitação estão a contribuir para a ‘savanização’ da Amazónia brasileira, especialmente nas regiões a sul e a leste.
Foi na região mais meridional que os cientistas focaram a sua investigação, um local onde a floresta tropical toca o Cerrado, um bioma de características da savana, e onde vários mamíferos terrestres deambulam por um e por outro.
Recorrendo a técnicas de fotoarmadilhagem, procuraram estudar os efeitos da savana em 31 espécies, entre elas o porco-do-mato (Tayassu pecari), a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), o jaguar (Panthera onca) e o ocelote (Leopardus pardalis).
Os resultados mostraram que apenas algumas espécies dessa região de fronteira preferiam, de facto, o habitat da savana, o que leva a crer que, com a ‘savanização’ da Amazónia, várias espécies sofrerão ainda maior pressão.
“A maioria das espécies da Amazónia, quando podem escolher entre boas florestas e uma boa savana, preferem as florestas”, explica Rocha, que detalha que isso se verificou até em espécies que fazem uso dos dois tipos de bioma.
“Há medida que perdemos florestas, eles também sofrem”, lamenta.
Uma vez que se prevê que a savana amazónica aumente e a floresta tropical diminua, fruto das alterações climáticas e da degradação provocada por atividades humanas, legais e ilegais, de extração de madeira e minérios, tudo indica que mesmo as áreas protegidas na Amazónia deixarão de ser capazes de escudar as espécies.
Os investigadores defendem que as mudanças nos habitats causadas pelo clima têm de ser integradas nas avaliações feitas sobre como as alterações climáticas afetam a vida selvagem, agora e no futuro.