Corredores ecológicos são fundamentais para a sobrevivência de uma espécie de pica-pau nos EUA



A expansão das populações humanas, de centro urbanos e de explorações agrícolas provocam a fragmentação de habitats um pouco por todo o mundo. Estradas e campos de cultivo, por exemplo, ‘partem’ em vários pedaços desconexos os territórios naturais de várias espécies, colocando-as em risco de conflitos com humanos e de atropelamentos.

Para atenuar esses impactos negativos, que, em algumas circunstâncias, podem mesmo colocar em perigo a sobrevivência de algumas populações, seja porque, ao estarem isolados de outros, reproduzem-se entre indivíduos consanguíneos, ou porque, para tentarem chegar a outros núcleos da mesma espécie, têm de atravessar vias rápidas, os corredores ecológicos, que ligam fragmentos de habitats, são técnicas essenciais para os esforços de conservação e proteção de animais selvagens.

Duas investigadoras da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos da América (EUA) estão a procurar identificar os habitats mais importantes para uma espécie de ave de aspeto peculiar, o pica-pau Dryocopus pileatus. Com uma crista vermelho-vivo e uma face branca com listas escuras, esta ave pode atingir o mesmo tamanho de um corvo e pode ser encontrada nas florestas desde a Columbia Britânica, no Canadá, até à Flórida, nos EUA.

Este pica-pau prefere florestas antigas, com troncos mortos onde possa construir os seus ninhos, e são essas especificidades ecológicas que tornam esta espécie vulnerável à destruição do seu habitat natural.

Este pica-pau, embora não seja considerado uma espécie ameaçada, está a ser fortemente impactada pela expansão de áreas urbanas, que fragmentam o seu habitat natural.
Foto: Membeth / Wiki Commons

Além disso, desempenha um importante papel nos ecossistemas, uma vez que, como cria ninhos novos todos os anos e não volta a usar os antigos, os refúgios que cria nas árvores são essenciais a outra espécies, como esquilos e corujas.

Ruijia Hu, doutorando da Universidade de Cincinnati e principal investigadora deste projeto, quer perceber como a expansão humana, e a consequente fragmentação dos habitats florestais, está a afetar as populações de pica-paus D. pileatos no estado norte-americano do Ohio. Para isso, recorreu a dados de observações recolhidos por ‘cientistas-cidadãos’ ao longo de oito ano nessa região.

Cruzando essa informação com dados recolhidos por sensores, a cientista descobriu corredores ao longo de rios e riachos, repletos de árvores maduras e de madeira morta, que têm sido indispensáveis à adaptação dos pica-paus à expansão urbana.

Para Hu, a identificação dos locais preferidos por esta espécie é fundamental para proteger e conservar esta espécie, e outras, perante o aumento da fragmentação dos habitats naturais e o desaparecimento das florestas.

Susanna Tong, docente na mesma universidade, é a outra cientista envolvida neste trabalho e considera que os corredores ecológicos são cada vez mais importantes para ajudar a salvar espécies de animais selvagens em contextos urbanos.

“Com florestas fragmentadas, muitos habitats que em tempos foram adequados para a vida selvagem são quebrados”, salienta, alertando que essa fragmentação faz com que os animais sejam incapazes de encontrar habitats suficientemente grandes para poderem sobreviver. “E mesmo que existam habitats adequados, a distância entre eles pode ser demasiado grande”, lamenta.

Por isso, aponta que os corredores ecológicos, ligando porções de habitats fragmentados, são essenciais para que os animais possam ter acesso a maiores quantidades de alimento e encontrar mais abrigos, tornando possível a sua sobrevivência nessas paisagens fortemente alteradas pelos humanos.

O pica-pau D. pileatos, embora não seja hoje considerado uma espécie em risco, viu a sua população cair a pique entre os séculos XVIII e XIX, devido à conversão de florestas em áreas agrícolas. Mas projetos de reflorestação permitiram à espécie recuperar.

Ainda assim, Hu avisa que proteger estes e outros animais pode muitas vezes não se tratar apenas de reflorestar, mas também de conservar o que ainda resta, uma vez que esta ave, em particular, depende de florestas antigas, que podem levar até 50 anos a atingir a maturidade necessária à sua sobrevivência, bem como à de outras espécies que dependem dos ninhos por criados por este pica-pau que serviu de inspiração para a criação do famoso desenho animado ‘Woody Woodpecker’.





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