Recifes de coral: Danos causados por branqueamento são mais difíceis de superar do que os provocados pelas tempestades
A subida da temperatura da Terra, como já se sabe, não se limita aos impactos causados em terra, como secas mais severas duradouras e incêndios mais intensos e devastadores. Efeitos igualmente desastrosos são sentidos nos mares e oceanos e os recifes de coral são um excelente indicador do aquecimento das águas marinhas.
Vivendo numa simbiose vital com pequenas algas que se instalam nos seus esqueletos de carbonato de cálcio e que lhes dá as cores exuberantes que associamos aos recifes tropicais, os corais podem sofrer um fenómeno conhecido como ‘branqueamento’ se a temperatura da água subir demasiado. Se isso acontecer, os corais expulsam as microalgas e tornam-se esbranquiçados, e caso a temperatura se mantenha elevada durante um longo período de tempo, podem mesmo morrer.
No entanto, as alterações climáticas, fortemente amplificadas pelas emissões de gases com efeito de estufa lançadas na atmosfera pelas atividades humanas, estão também a fazer aumentar a frequência das tempestades, bem como a sua intensidade, podendo destruir recifes de coral inteiros.
Para perceber qual o fenómeno mais devastador – se as ondas de calor marinhas, se as tempestades – um grupo de investigadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos da América, avaliou de que forma ambos afetam os recifes de coral e a sua influência na recuperação.
Num artigo publicado na revista ‘Ecology’, avançam que os corais têm mais dificuldades em recuperar de eventos de branqueamento do que dos danos causados por tempestades, mesmo que os níveis de mortalidade tenham sido semelhantes.
Debruçando-se sobre os recifes em torno da ilha de Moorea, na Polinésia Francesa, os autores perceberam quando os corais sofrem branqueamento, os seus esqueletos, que se mantêm no mesmo lugar, o que não aconteceria depois de serem atingidos por uma forte tempestade, continuam a oferecer abrigo a pequenas algas, que por entre os seus braços podem escapar à predação e continuar a crescer e a proliferar.
Se o evento de branqueamento tiver afetado uma grande extensão do recife, os corais terão dificuldade em recuperar, abrindo espaço à predominância das ervas marinhas, um dos principais concorrentes dos corais na busca por espaço onde fixar as suas raízes.
Assim, choques ambientais, como ondas de calor marinhas que matam vários corais ou tempestades, redesenham os equilíbrios ecológicos, num processo chamado histerese, fazendo com que uma área dominada antes pelos corais passe a ser governada pelas ervas marinhas.
Desprovidos das suas algas simbióticas, os corais branqueados ficam também vulneráveis à erosão, tornando-se frágeis, o que faz com que sejam casas pouco adequadas a novos pólipos de coral que procurem um refúgio onde possam crescer. Entretanto, as ervas marinhas, protegidas dos predadores, continuam a desenvolver-se, ocupando espaço que poderia ser conquistado pelos pólipos.
Por isso, o branqueamento causado pelo aumento da temperatura das águas marinhas provoca danos muito mais difíceis de superar pelos corais do que os causados por tempestades, que, ao provocarem a destruição dos esqueletos coralinos, atuam também como controlo da proliferação das ervas marinhas concorrentes.
Se assim é, por que razão não se removem os esqueletos branqueados e se evita a histerese, dando mais espaço à recuperação dos corais? Kai Kopecky, um dos investigadores envolvidos neste estudo, responde que, apesar de essa abordagem estar a ganhar seguidores, as estruturas de carbonato de cálcio deixadas pelos corais são ecologicamente importantes, servindo de proteção a outras espécies de animais marinhos.
Além disso, ainda se sabe pouco sobre os impactos da remoção dos esqueletos na recuperação dos recifes, pelo que é preciso primeiro mais trabalho de investigação antes de se começar a implementar projetos de remoção sem saber as reais consequências.