Financiamento para travar a desflorestação está muito aquém do que é preciso
Atualmente, estima-se que o financiamento, a nível mundial, para proteger as florestas da destruição é de entre dois e três mil milhões de dólares por ano. Mas um relatório da organização Energy Transitions Commission revela que, para proteger as florestas da destruição para fins económicos, reduzindo os incentivos à desflorestação, seriam precisos mais de 130 mil milhões de dólares ao ano.
Intitulado ‘Financiando a Transição: O custo de evitar a desflorestação’ (Financing the Transition: The Cost of Avoiding Deforestation, no original), o relatório, divulgado hoje, reconhece que é uma quantia “muito grande”, pelo que, além de ter de vir de pagamentos feitos pelas empresas no âmbito dos mercados voluntários de carbono, da filantropia e de um maior esforço por parte dos países mais ricos, proteger as florestas do mundo implicaria também uma série da ações não-financeiras.
Entre elas, reduzir a procura dos principais produtos que estão fortemente associados à desflorestação, e que a tornam atrativa, como o óleo de palma e a carne, criar modelos de negócio alternativos que permitam tornar lucrativa a conservação das florestas (como o ecoturismo e práticas sustentáveis que juntem a agricultura e a silvicultura), e também reforçar as medidas governamentais que travar a destruição das áreas florestais.
Contudo, os relatores reconhecem que implementar estas ações não-financeiras exige tempo, que podem ser apenas parte da solução e que podem não ser eficazes no curto prazo. Por isso, argumentam que, pelo menos para já, o pagamento de compensações às empresas e negócios que estão dependentes e beneficiam da desflorestação “desempenhará um papel importante” na proteção das florestas mais vulneráveis à destruição humana, pelo menos enquanto as ações não-financeiras não mostraram sinais de maturidade.
E salientam que os incentivos financeiros à proteção das florestas devem andar lado a lado com medidas como a ilegalização da desflorestação e a redução da procura por produtos associados a essa destruição.
Adair Turner, presidente da Energy Transitions Commission e membro da Câmara dos Lordes do Reino Unido, considera que sem um “significativo fluxo” de incentivos financeiros “qualquer redução da desflorestação chegará demasiado tarde para ser possível manter o aquecimento global bem abaixo dos dois graus Celsius”, tal como plasmado no Acordo Climático de Paris de 2015.
O responsável alerta, porém, que os apoios financeiros “por si só não conseguirão travar a desflorestação”, e que para tal são precisas ações para reduzir a procura dos produtos dessa destruição, sendo que, nesse âmbito, os governos, as empresas e os consumidores são inevitavelmente chamados a agir e a fazerem as escolhas necessárias e que são urgentes para assegurar um planeta habitável por muitas mais gerações.
O relatório recorda que quase 15% do total das emissões de dióxido de carbono produzidas pelas ações humanas derivam da desflorestação, pelo que travar e transformar as atividades que dela dependem e beneficiam é fulcral para combater o aquecimento global e a degradação dos ecossistemas.