Apps para telemóveis não conseguem reconhecer uma em cada cinco espécies de plantas



A proliferação de aplicações (apps) para smartphones é um reflexo do aumento da participação dos cidadãos na Ciência, ajudando os investigadores a detetarem a presença de determinada espécie de animal ou planta num dado local, alertando para a sua presença ou desaparecimento, e ajudando a fazer ‘inventários da Natureza’.

No entanto, apesar do crescimento desse segmento de programas para telemóveis, um novo estudo mostra que as apps falham em identificar corretamente uma em cada cinco espécies de plantas.

Um grupo de investigadores, num artigo divulgado este mês na ‘PLOS One’, analisou seis apps – Google Lens, iNaturalist, Leaf Snap, Plant Net, Plant Snap e Seek – para identificar 38 espécies de plantas nativas da Irlanda. De acordo com a investigação, apenas a Plant Net é a que tem o maior nível de precisão da identificação de flores (88,21%) e das folhas (80,36%), que ajudarão a determinar a espécie.

Quadro mostra o desempenho de seis apps na identificação de espécies de plantas através de fotografias da folhas e das flores.
Foto: Artigo

A app com o pior desempenho foi a iNaturalist, com uma taxa de identificação correta de flores de 3,57% e de folhas de 6,79%.

O trabalho permitiu também perceber que a capacidade para identificar corretamente a espécie de planta era maior quanto a fotografia incluí as flores e não apenas as folhas.

Julie Peacock, professora de Ecologia na Universidade de Leeds e uma das autoras do artigo, explica que as apps de identificação de plantas têm “um potencial enorme” para aumentar a sensibilidade da população sobre esse reino da vida. E salienta que podem também “ajudar em esforços de conservação e equipas de consultoria ambiental”.

Mas, avisa, a app é apenas uma ferramenta, e quem a usa deve ter “competências básicas de identificação de plantas”, bem como estar ciente de que o melhor mesmo será confirmar as identificações sugeridas pelas aplicações.

“Uma calculadora é uma excelente ferramenta na matemática, mas sem pelo menos um conhecimento básico de aritmética, alguém que a use não poderá saber se a resposta dada está correta ou não”, afirma Peacock, indicando que o mesmo se passa com este tipo de apps.

“Saber que as apps podem não ser precisas, que algumas podem ser melhores a identificar certos tipos de plantas e que a foto submetida terá impactos na precisão da identificação é importante quando se usam estas ferramentas.”

Por isso, os autores dizem que, embora a tecnologia esteja em constante melhoria, por agora, as identificações dadas por estas apps devem ser interpretadas com cautela e não se deve tomá-las como automaticamente corretas.

Karen Bacon, outra das autoras, argumenta que as apps de identificação de plantas são “uma forma muito importante de encorajar as pessoas a envolverem-se com o mundo natural e a familiarizarem-se com as plantas que estão perto de si ou com plantas em novos sítios exóticos por onde viajem”.

“Contudo, não sabemos ao certo quão boas são muitas dessas apps a fazerem aquilo que dizem que fazem – identificar plantas com precisão”, acrescentando que este trabalho é especialmente importante quando se considera que muitas pessoas podem estar a usar essas apps para identificarem plantas ingeridas pelos seus animais ou por crianças e para tentarem perceber se podem, ou não, ser tóxicas.

“Quão certo podemos estar de que a nossa app está a dar-nos a identificação correta?”, lança Bacon.





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