‘Terra preta’: O segredo da Amazónia que pode ajudar a acelerar o restauro das florestas no Brasil e em todo o mundo



O termo ‘terra preta’ é usado para descrever um tipo de solo extremamente fértil encontrado na Amazónia e que foi criado ao longo de mais de mil anos por várias gerações de grupos ameríndios, que enriqueceram o solo pobre com carvão vegetal de pequenas fogueiras que usavam para cozinhar alimentos, com ossos de animais e estrume.

O resultado? Um solo rico em nutrientes e repleto de microrganismos que regista níveis extraordinários de fertilidade. Por isso, uma equipa de investigadores brasileiros acredita que a composição da ‘terra preta’, que deriva o seu nome da cor que lhe é dada pelo carvão, pode ajudar a restaurar solos degradados e, assim, impulsionar a reflorestação em todo o mundo.

Nesta fotografia do solo na Amazónia, é possível ver uma zona mais escura, que corresponde à chamada ‘terra preta’ extremamente fértil que foi alvo deste estudo.
Foto: Luís Felipe Guandalin Zagatto / coautor do artigo

Luís Felipe Zagatto, da Universidade de São Paulo e um dos autores do artigo publicado hoje na revista ‘Frontiers in Soil Science’, considera que o uso da ‘terra preta’ “pode aumentar o crescimento de pasto e de árvores devido aos seus elevados níveis de nutrientes”, como fósforo, magnésio, cálcio e zinco, e à presença de comunidades estáveis de bactérias e outros microrganismos.

“Isto significa que o conhecimento dos ‘ingredientes’ que tornam a [‘terra preta’] tão fértil pode ser usado para ajudar a acelerar projetos de restauro ecológico”, explica.

A comunidade microbiana é um fator fundamental da fertilidade excecional desse tipo de solo amazónico, uma vez que, como explica um dos principais autores, Anderson Santos de Freitas, da mesma universidade, “os micróbios transformam as partículas químicas do solo em nutrientes que podem ser usados pelas plantas”. E, segundo dizem, a ‘terra preta’ contém microrganismos muito mais eficazes nessa transformação do que solos de outros tipos.

A ‘terra negra’ demorou séculos a formar-se e acumular-se, pelo que os cientistas recomendam que não se use esse solo propriamente dito, mas que se repliquem as suas características, especialmente no que toca aos microrganismos, no âmbito de projetos de restauro ecológico.

Escrevem os investigadores que esse solo “fornece uma grande variedade de matéria orgânica, compostos químicos e microrganismos que melhoram o desenvolvimento das plantas e pode ser usado como solução biotecnológica na ecologia restaurativa”.

“Os povos nativos da Amazónia usam a [‘terra negra’] para plantar alimentos há séculos, e não precisam de fertilizantes”, salientam.





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