À falta de presas, aranhas-lobo podem recorrer ao canibalismo para manter o equilíbrio ecológico



A coexistência entre predadores que usam as mesmas fontes de alimento nem sempre é fácil ou pacífica, mas os ecólogos acreditam que há mecanismos que permitem, pelo menos, aliviar a tensão da competição, preferindo determinadas espécies e deixando as demais para outros predadores.

Contudo, essa não parece não ser uma regra que possa ser aplicada a todos, especialmente à família das aranhas Lycosidae, vulgarmente conhecidas como aranhas-lobo, um grupo que contém milhares de espécies. Estes artrópodes são conhecidos por serem caçadores exímios e por serem bastante velozes, sobretudo quando estão a caçar presas ou a fugir de predadores, e a maioria das espécies de aranhas-lobo não tece teias, usando, ao invés, presas que injetam veneno e liquefazem os órgãos internos das suas vítimas.

Aranha-lobo da espécie Rabidosa rabida.
Foto: Judy Gallagher / Wiki Commons

Num artigo divulgado no ‘Journal of Animal Ecology’, investigadores dos Estados Unidos da América revelam que as aranhas-lobo, quando a diversidade de presas diminui, podem optar por devorar-se umas às outras para restituir o equilíbrio ecológico, incluindo membros da mesma espécie.

Stella Uiterwaal, da Universidade do Nebrasca, explica que a escassez de presas coloca as aranhas mais fracas em competição mais direta com as mais fortes, sendo que estas últimas acabam por beneficiar duplamente: compensam a falta de presas com o consumo de outros predadores e reduzem a população concorrente.

A investigação surgiu depois da cientista ter percebido que a diversidade de espécies de aranhas-lobo na região de Cedar Point, no sudoeste do Nebrasca, perto de um lado, onde estudava, estavam a ocupar praticamente os mesmos nichos ecológicos e a depender das mesmas presas.

“E há uma ideia ecológica clássica que diz que as espécies não podem estar a fazer exatamente a mesma coisa. Se isso acontecer, não conseguirão persistir no ambiente por muito tempo”, afirma.

A espécie Hogna baltimoriana foi uma das que figurou neste estudo, que procurou perceber como é que a disponibilidade de presa afeta os comportamentos alimentares deste grupo de aranhas altamente diverso.
Foto: Stella Uiterwaal & Scott Schrage / Universidade do Nebrasca

Assim, Uiterwaal e uma equipa de investigadores passaram os verões de 2019 e 2020 a recolher 605 espécimes de diversas espécies de aranhas-lobo: Hogna baltimoriana, Rabidosa rabida, Schizocosa bilineata, Schizocosa mccooki, Schizocosa ocreata, Schizocosa retrorsa e Schizocosa saltatrix. E recolheram também algumas das suas presas, como moscas, gafanhotos, grilos, borboletas, traças e afídios.

Mas para poderem ter uma ideia mais clara da deita destas aranhas, os investigadores recorreram a técnicas de análise genética dos conteúdos dos seus estômagos, e perceberam que as semelhanças entre as várias espécies eram imensas.

“Todas estas aranhas estão basicamente a comer as mesmas coisas, algo de que eu não estava à espera, porque encontramos estas aranhas em locais ligeiramente diferentes e têm aspetos e comportamentos diferentes”, afirma a cientista, e com base em análises isotópicas, conseguiram também perceber que algumas aranhas-lobo estavam mesmo a consumir outros indivíduos do mesmo grupo e até da mesma espécie.






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