Cientistas descobrem como borboletas surgiram nas Américas e conquistaram o mundo



Foi há aproximadamente 100 milhões de anos que as borboletas noturnas, ou traças, começaram a voar também durante o dia, para tirar partido do néctar produzido pelas flores de plantas que evoluíram em conjunto com as abelhas.

Com base na sequenciação genómica de cerca de 2.300 espécies de borboletas, representando 92% de todos os géneros conhecidos, uma equipa internacional de cientistas reconstruiu a ‘árvore da vida’ destes insetos alados ao longo de milhões de anos e descobriu que as primeiras borboletas apareceram algures numa região que abrange a atual América Central e a parte ocidental da América do Norte.

Atualmente, estima-se que existam cerca de 19 mil espécies diferentes de borboletas, um pouco por todo o planeta, uma dispersão que terá começado há dezenas de milhões de anos. Nessa altura, as Américas Central e do Norte estavam ainda separadas da América do Sul pelas águas marinhas que ainda submergiam o istmo do Panamá.

Neste mapa, podemos ver a disposição dos continentes há cerca de 100 milhões de anos, quando as primeiras borboletas surgiram e começaram a sua expansão pelo mundo.
Imagem: Christopher Scotese (2021)

Mas sendo animais com capacidade de voo, as borboletas não tiveram grandes dificuldades em atravessar o mar e expandir-se. Também nesses tempos longínquos, os continentes estavam ainda muito próximos uns dos outros, e a dispersão das borboletas partiu das Américas do Norte e Central, passando para a Eurásia através da ligação terrestre de Bering. Daí, seguiram o sudeste asiático, o Médio Oriente e para porções do leste africano.

Dizem os cientistas que as borboletas foram até capazes de chegar à Índia, que há milhões de anos era nada mais do que uma ilha relativamente isolada. Pensa-se que esses animais poderão ter colonizado também a Antártida, numa altura em que as temperaturas globais eram mais altas.

Ao longo deste percurso, as borboletas foram criando populações à sua passagem, sendo que só terão chegado à Europa cerca de 45 milhões de anos depois de terem alcançado a região ocidental da Ásia. Os investigadores admitem que ainda se desconhece a razão dessa ‘pausa’, mas dizem que ainda hoje são visíveis os efeitos dessa demora.

“A Europa não te tantas espécies de borboletas comparando com outras partes do mundo, e as que tem podem ser encontradas noutros locais”, explica Akito Kawahara, curador da coleção de lepidópteros (ordem das borboletas) do Museu de História Natural da Florida, nos Estados Unidos da América, e primeiro autor do artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Ecology and Evolution’.

Depois de colonizarem o planeta, as borboletas começaram a diversificar-se intensamente, sendo que, há cerca de 66 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos, já quase todas as famílias existentes nos dias de hoje tinham surgido, evoluindo lado a lado com grupos específicos de plantas.

Traçada esta história biogeográfica, os investigadores perceberam também que as primeiras borboletas tinham uma predileção particular pelas flores de plantas leguminosas (faseoláceas), sobretudo o feijão.

Palema Soltis, especialista em botânica e outra das autoras do artigo, afirma que as parcerias que se estabeleceram entre as borboletas e as plantas permitiram a esses insetos passarem de um grupo divergente de traças para se tornarem um dos maiores e mais diversos grupos de insetos do planeta.

“As evoluções das borboletas e das plantas com flor têm estado inexoravelmente ligadas”, desde a origem desse grupo de insetos, sublinha a especialista, apontando que “a relação íntima entre elas resultou em eventos extraordinários de diversificação em ambas as linhagens”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...