Ligações sociais fortes ajudam babuínos a superarem traumas de infância e a viveram mais anos
A infância é um dos períodos mais críticos no desenvolvimento dos animais sociais, pelo que experiências traumáticas podem deixar uma marca indelével que acompanhará o indivíduo ao longo de toda a sua vida. No entanto, estabelecer ligações fortes com outros membros do grupo pode ajudar a atenuar os traumas.
E os babuínos (do género Papio), primatas altamente sociais, não são exceção. Um grupo de investigadores dos Estados Unidos da América (EUA) procurou perceber como esses animais, em regime selvagem, conseguem superar os traumas de infância.
Com base na análise de dados recolhidos sobre cerca de 200 babuínos no Sul do Quénia, verificaram que eventos traumáticos durante os primeiros anos de vida podem reduzir a longevidade desses animais. Contudo, ao criarem laços sociais fortes com outros babuínos, já na idade adulta, esses indivíduos traumatizados podem recuperar os anos ‘perdidos’.
Num artigo divulgado esta quarta-feira na ‘Science Advances’, os autores argumentam que os babuínos que sofreram traumas na infância – porque que ficaram órfãos ou porque nasceram em períodos de escassez de água, por exemplo – podem viver, em média, mais dois anos do que os que não formam esses laços sociais.
Susan Alberts, especialista em biologia e antropologia evolutiva da Duke University e uma das principais autoras, acredita que o estudo da vida social de primatas selvagens, com os quais partilhamos mais de 90% do nosso ADN, permite perceber melhor os efeitos dos traumas infantis ao longo da vida adulta dos humanos.
Esta investigação focou-se em fêmeas adultas de babuínos que vivem no Parque Nacional de Amboseli, e cujas vidas os cientistas têm acompanhado de perto ao longo das últimas décadas. Os resultados revelam que 75% dos indivíduos estudados sofreu algum tipo de evento traumático ou stress durante a infância, sendo que quanto mais fatores acumulassem maior seria a probabilidade de morrerem mais cedo.
Em alguns casos, as fêmeas que tiveram quatro experiências nos primeiros anos de vida tendem a morrer quase seis anos antes das que não tiveram de enfrentar qualquer situação desse tipo. Mas os investigadores dizem que infâncias atribuladas não são necessariamente uma sentença de morte inevitável.
“As fêmeas que tiveram más infâncias não estão condenadas”, afiança Elizabeth Lange, da State University of New York, em Oswego (EUA), uma vez que se descobriu que fortes laços sociais – algo que é medido pela frequência com que esses primatas se tocam e higienizam mutuamente – acrescenta perto de 2,2 anos de vida aos babuínos, independentemente das suas infâncias.
Por exemplo, as fêmeas cujas progenitoras morreram antes que elas tivessem alcançado a maturidade podem viver vidas longas, saudáveis e estáveis se criarem laços afetivos em adultas com outros membros do grupo.
Embora não possam ainda saber ao certo se é possível estender os resultados observados aos humanos, os cientistas acreditam que o trabalho poderá ajudar a impulsionar estudos que procurem novas formas de recuperação de pessoas que sofreram traumas de infância, mesmo depois de adultas.
“Constatámos que tanto a adversidade nos primeiros anos de vida como as interações sociais em adulto afetam, de forma independente, a sobrevivência”, argumenta Lange, salientando que isso significa que “intervenções que ocorram ao longo da vida”, de um humano ou de um babuíno, poderá ajudar a aumentar as probabilidades de sobrevivência.