Investigadores descobrem que os chimpanzés têm uma linguagem primitiva através de brincadeiras com cobras falsas
O estudo descobriu que os chimpanzés têm sintaxe e produzem sons específicos para exprimir significados. Isto pode lançar luz sobre a história evolutiva da linguagem humana.
Quando algo corre mal, um ser humano pode usar palavras, expressões e sons para transmitir perigo. Um simples grito de “Oh não!” “Socorro!” e “Cuidado!”, juntamente com gestos e expressões faciais preocupadas, é mais do que suficiente para alertar outros seres humanos para uma possível ameaça.
Os investigadores da Universidade de Zurique queriam saber se os chimpanzés, alguns dos parentes vivos mais próximos da humanidade, também são capazes deste nível de comunicação. Agora, a sua investigação descobriu que os chimpanzés selvagens do Uganda podem ter a sua própria linguagem primitiva, completa com sintaxe.
No estudo, os cientistas utilizaram cobras falsas amarradas em linhas de pesca para observar e registar as reações dos chimpanzés a essas “cobras”. Depois, os investigadores reproduziram os sons em diferentes ordens para ver qual deles, se algum, provocava uma reação mais forte.
O que a equipa descobriu foi que os chimpanzés não só tinham sons específicos com significados correspondentes, como também compreendiam a ordem das palavras e reagiam em conformidade, dependendo do som que vinha primeiro numa sequência.
Os investigadores repararam que os chimpanzés produziam dois sons distintos quando viam cobras e outros perigos na natureza: “waa-barks”, ou seja, pedidos de ajuda a outros chimpanzés, e “alarm-huus”, ou seja, pedidos de alerta para um potencial perigo.
Na primeira fase da brincadeira da cobra falsa, a equipa colocou cobras falsas perto dos chimpanzés e registou as suas reações.
Depois, passaram a um teste de reprodução. Enquanto enrolavam a cobra falsa pela selva do Uganda, tocavam gravações de “waa-barks” e “alarm-huus” em diferentes padrões, por vezes a solo e outras vezes em combinações de sons variados. Por vezes, a equipa tocava primeiro os “waa-barks” numa sequência, outras vezes os “alarm-huus”.
O que descobriram foi que os chimpanzés reagiam mais fortemente quando um “waa-bark” era seguido de um “alarm-huus”, sugerindo que a ordem dos sons desempenhava um papel na reação dos chimpanzés. Os investigadores afirmam que este facto aponta para a existência de sintaxe na linguagem primitiva dos chimpanzés.
“Propomos que o ‘alarm-huu + waa-bark’ represente uma estrutura sintática composicional, em que o significado da combinação de sons é derivado do significado das suas partes”, explicou a equipa no seu estudo.
Estas descobertas são importantes não só para compreender os chimpanzés, mas também a história evolutiva da humanidade.
Os investigadores afirmam que o facto de os chimpanzés utilizarem a sintaxe na sua linguagem mostra que esta não teve origem nos seres humanos, “mas que os elementos cognitivos que facilitam a sintaxe podem ter estado presentes no nosso último antepassado comum com os chimpanzés”.
Ainda no ano passado, um outro estudo mostrou que os chimpanzés da Costa do Marfim compreendiam mais de 390 vocalizações únicas, conforme relatado pela Salon. Outros testes mostraram que os chimpanzés podem ser capazes de usar essas vocalizações para criar novas palavras distintas.
“De uma perspetiva puramente estrutural, a capacidade de organizar unidades individuais em sequências estruturadas oferece um sistema versátil potencialmente adequado para a geração de significados expansivos. Mais investigação deve mostrar até que ponto estas sequências estruturais sinalizam significados previsíveis”, escreveu na altura um autor do estudo.
Esperemos que a investigação futura nos permita compreender melhor a linguagem dos nossos parentes mais próximos e juntar as peças da nossa própria evolução linguística no processo.
“Os humanos e os chimpanzés partilharam pela última vez um antepassado comum há cerca de 6 milhões de anos. Os nossos dados indicam, portanto, que a capacidade de combinar vocalizações significativas tem, potencialmente, pelo menos 6 milhões de anos, se não for mais antiga”, afirmou o autor do estudo e professor da Universidade de Zurique, Simon Townsend, num comunicado publicado no EurekAlert.
Este estudo é mais um acréscimo à nova e excitante investigação sobre o uso da linguagem pelos grandes símios.