Linces e coiotes escapam aos predadores, mas acabam por morrer às mãos dos humanos



Os ecossistemas são complexas redes de interações entre organismos (incluindo humanos), bem como entre eles e elementos da paisagem, como o solo, rios e montanhas. Em equilíbrio, o tamanho das populações é determinado pela disponibilidade de alimento e de presas e pelo número de predadores.

Numa investigação feita no estado de Washington, nos Estados Unidos da América, no âmbito do projeto Washington Predator-Prey Project, os cientistas procuraram perceber de que forma a presença de predadores de topo, como o lobo (Canis lupus) e o puma (Puma concolor), estavam a influenciar as populações de predadores menores (mesopredadores) como o coiote (Canis latrans) e o lince-pardo (Lynx rufus).

Lince-pardo (Lynx rufus).
Foto: mandarinblues / Wikimedia Commons

Em condições ‘normais’, os superpredadores estariam a controlar os números de linces e coiotes, impedindo a sua proliferação descontrolada, mas percebeu-se que essas duas espécies encontraram forma de escapar, dispersando-se para zonas urbanas com forte presença humana.

Acontece que os mesopredadores têm conseguido, de facto, escapar às garras dos lobos e dos pumas, mas têm encontrado o seu fim às mãos de um outro superpredador.

Debruçando-se sobre áreas rurais nessa região dos EUA, os investigadores concluíram que era três vezes mais provável que os linces e os coiotes fossem mortos às mãos dos humanos, caçados ou através de armadilhas, do que pelos lobos e pumas.

Laura Prugh, investigadora de ecologia da vida selvagem na Universidade de Washington e principal autora do artigo divulgado recentemente na ‘Science’, explica que os linces e os coiotes começaram a deslocar-se para áreas com maior presença humana para fugirem aos seus predadores.

Coiote (Canis latrans) a atravessar uma estrada de asfalto nos Estados Unidos.
Foto: Alan Schmierer / Wikimedia Commons

Contudo, apesar de esse comportamento indicar que “os coiotes e os linces provavelmente entenderam que esses grandes predadores eram uma ameaça maior do que as pessoas”, os humanos eram “de longe a maior causa de morte”.

Para chegarem a essas conclusões, os cientistas estudaram a atividade de centenas de lobos, pumas, linces e coiotes com coleiras GPS entre o final de 2017 e o verão de 2022, abrangendo uma multiplicidade de contextos, como florestas, zonas de campismo, de caça e de pesca, áreas agrícolas, de exploração madeireira e zonas residenciais.

Imagem de coiote com coleira GSP captada por fotoarmadilhagem.
Foto: Savanah Walker / coautora do artigo

De acordo com os dados recolhidos, sempre que os lobos e os pumas se instalavam numa área ocupada por linces e coiotes, estes dois últimos acabavam por se dispersar para áreas com grande presença humana, procurando alguma forma de abrigo.

“Os coiotes e os linces começaram a usar áreas que tinham quase o dobro da influência humana comparando com os locais onde estavam antes de os grandes carnívoros terem chegado”, afirma Prugh.

E os encontros entre humanos e mesopredadores tendem a não acabar bem. A investigação revela que dos 24 coiotes e dos 22 linces acompanhados pelos cientistas, metade foram mortos por pessoas, sobretudo depois de terem atacado animais de gado e galinhas.

No entanto, os investigadores asseguram que a mortalidade causada pelos humanos não representa uma ameaça às populações de linces e coiotes, dois dos mesopredadores mais abundantes na América do Norte. Ainda assim, avisam que nem todos os mesopredadores são tão resilientes, e que algumas espécies, como a marta (Pekania pennanti), reproduzem-se mais lentamente e as suas populações estão mais vulneráveis às atividades humanas.

Os cientistas dizem que sã precisos mais estudos para perceber melhor a forma como esses mesopredadores ocupam e vivem em espaços com grande presença humana, não só para se poderem avaliar os riscos para os animais, mas também para as pessoas.





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