O que aconteceria ao mundo se as pessoas desaparecessem?

O que aconteceria com todas as nossas coisas? O que aconteceria às nossas casas, às nossas escolas, aos nossos bairros, às nossas cidades?
Quem daria de comer ao cão? Quem cortaria a relva? Embora seja um tema comum em filmes, programas de televisão e livros, o fim da humanidade ainda é uma coisa estranha de se pensar.
“Mas como professor associado de design urbano – ou seja, alguém que ajuda as cidades a planear o aspeto das suas comunidades – é por vezes meu dever pensar em perspetivas como esta”, escreve Carlton Basmajian no “The Conversation”.
Tanto silêncio
Para o professor, se os seres humanos desaparecessem do mundo e pudéssemos voltar à Terra para ver o que tinha acontecido um ano depois, a primeira coisa em que repararíamos não seria com os olhos. Seria com os ouvidos.
O mundo estaria silencioso. E aperceber-se-ia do barulho que as pessoas fazem. Os nossos edifícios são ruidosos. Os nossos carros são barulhentos. O nosso céu é barulhento. Todo esse barulho iria parar.
Repararíamos no tempo. Depois de um ano sem pessoas, o céu seria mais azul, o ar mais claro. O vento e a chuva limpariam a superfície da Terra; todo o smog e o pó que os humanos produzem desapareceriam.
Lar doce lar
Imagine esse primeiro ano, em que a sua casa não seria incomodada por ninguém.
Entra na tua casa – e espera que não tenhas sede, porque não haveria água nas tuas torneiras. Os sistemas de água requerem uma bombagem constante. Se não estiver ninguém no abastecimento público de água para gerir as máquinas que bombeiam a água, então não há água.
Mas a água que estava nos canos quando toda a gente desapareceu ainda lá estaria quando chegasse o primeiro Inverno – por isso, na primeira vaga de frio, o ar gelado congelaria a água nos canos e rebentaria com eles.
Não haveria eletricidade. As centrais elétricas deixariam de funcionar porque ninguém as controlaria e manteria o abastecimento de combustível. Assim, a sua casa ficaria às escuras, sem luzes, televisão, telefones ou computadores.
A tua casa ficaria cheia de pó. Na verdade, há pó no ar a toda a hora, mas não damos por ele porque os nossos sistemas de ar condicionado e aquecedores sopram o ar. E à medida que nos deslocamos pelas divisões da nossa casa, o pó também se vai deslocando. Mas quando tudo isso para o ar dentro de casa fica parado e o pó assenta por todo o lado.
A relva do seu quintal cresceria – e cresceria e cresceria até ficar tão comprida e frouxa que deixaria de crescer. Apareceriam novas ervas daninhas, que estariam por todo o lado.
Muitas plantas que nunca tinhas visto antes iriam criar raízes no teu quintal. De cada vez que uma árvore deixa cair uma semente, pode nascer um pequeno rebento. Ninguém estaria lá para a arrancar ou cortar.
Ver-se-ia muito mais insetos a zumbir por aí. Lembre-se que as pessoas tendem a fazer tudo o que podem para se livrarem dos insetos. Pulverizam o ar e o solo com inseticida. Removem o habitat dos insetos. Colocam telas nas janelas. E se isso não funcionar, matam-nos.
Sem as pessoas a fazerem todas estas coisas, os insetos voltariam. Voltariam a ter rédea solta no mundo.
Na rua onde vive
No seu bairro, os bichos andam por aí, à procura e à procura.
Primeiro os mais pequenos: ratos, marmotas, guaxinins, doninhas, raposas e castores. Este último pode surpreendê-lo, mas a América do Norte já foi rica em castores.
Os animais maiores viriam mais tarde – veados, coiotes e, ocasionalmente, ursos. Não no primeiro ano, talvez, mas eventualmente.
Sem luz elétrica, o ritmo do mundo natural regressaria. A única luz seria a do Sol, da Lua e das estrelas. Os animais noturnos sentir-se-iam bem por terem o seu céu escuro de volta.
Os incêndios seriam frequentes. Um raio poderia atingir uma árvore ou um campo e incendiar o mato, ou atingir as casas e os edifícios. Sem pessoas para os apagar, esses fogos continuariam a arder até se extinguirem.
À volta da sua cidade
Passado apenas um ano, as coisas de betão – estradas, autoestradas, pontes e edifícios – teriam praticamente o mesmo aspeto.
Volte, digamos, uma década mais tarde, e terão aparecido fissuras, com pequenas plantas a sair por elas. Isto acontece porque a Terra está em constante movimento. Com este movimento vem a pressão, e com esta pressão vêm as fissuras.
Eventualmente, as estradas rachar-se-iam tanto que pareceriam vidro partido, e até as árvores cresceriam através delas.
As pontes com pernas de metal enferrujariam lentamente. As vigas e os parafusos que sustentam as pontes também enferrujariam. Mas as grandes pontes de betão e as autoestradas interestaduais, também de betão, durariam séculos.
As barragens e diques que as pessoas construíram nos rios e riachos do mundo sofreriam erosão. As explorações agrícolas seriam devolvidas à natureza. As plantas que comemos começariam a desaparecer. Deixaria de haver milho, batatas ou tomates.
Os animais de quinta seriam presas fáceis para ursos, coiotes, lobos e panteras. E os animais de estimação? Os gatos tornar-se-iam selvagens – ou seja, passariam a ser selvagens, embora muitos fossem predados por animais maiores. A maioria dos cães também não sobreviveria.
Como a Roma antiga
Daqui a mil anos, o mundo de que te lembras seria ainda vagamente reconhecível. Algumas coisas manter-se-iam; dependeria dos materiais de que são feitas, do clima em que se encontram, e simplesmente da sorte.
Um edifício de apartamentos aqui, um cinema ali, ou um centro comercial em ruínas seriam monumentos de uma civilização perdida. O Império Romano desmoronou-se há mais de 1500 anos, mas ainda hoje é possível ver alguns vestígios.
Se mais não fosse, o facto de os humanos desaparecerem subitamente do mundo revelaria algo sobre a forma como tratamos a Terra.
Também nos mostraria que o mundo que temos hoje não pode sobreviver sem nós e que nós não podemos sobreviver se não cuidarmos dele.
“Para continuar a funcionar, a civilização – como qualquer outra coisa – requer uma manutenção constante”, conclui.