Tartarugas-de-pente: Apesar dos esforços de conservação, continuam ameaçadas pelas atividades humanas



Neste Dia Mundial das Tartarugas Marinhas, a Convenção das Nações Unidas sobre Espécies Migradoras de Animais Selvagens (CMS) divulgou a mais recente avaliação do estado de conservação das tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) na região ocidental do Oceano Pacífico.

Também conhecida pelo nome vulgar tartaruga-de-escamas, esta espécie de réptil marinho está criticamente em perigo de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), sobretudo devido à captura insustentável, legal e ilegal, para obtenção e consumo de carne e para o comércio das suas carapaças. Outras ameaças persistentes incluem a poluição por plástico, a captura acidental em artes de pesca, o desenvolvimento urbano que degrada ou destrói os seus locais de nidificação nas áreas costeiras e, claro, as alterações climáticas.

Tartaruga-de-pente.
Foto: Albert Kok / Wikimedia Commons

“Muitas organizações, indivíduos, comunidades e governos dedicados alcançaram vitórias na conservação, mas muito mais trabalho precisa de ser feito para prevenir ainda mais declínios”, escrevem os autores do relatório, que incluem especialistas e investigadores de organizações ambientalistas, universidades e agências governamentais.

Captura e comércio ilegal, alterações climáticas e poluição são algumas as maiores ameaças

O relatório salienta que embora o comércio de tartarugas-de-pente e dos seus ovos remonte ao século IX, a procura pelas carapaças desses animais, usadas para produzir pulseiras e outros acessórios, por exemplo, “expandiu-se rapidamente no século XVII”.

Estima-se que, entre 1950 e 1992, tenham sido capturadas cerca de 1,3 milhões de tartarugas só no sudeste asiático, e perto de nove milhões entre 1844 e 1992. Esse declínio acentuado é um dos grandes obstáculos à recuperação atual da espécie na região, uma recuperação a partir de números populacionais muito baixos.

Um pendente feito a partir da carapaça de tartaruga-de-pente, datado do século XIX, do Museu de Arte de Honolulu.
Foto: Hiart / Wikimedia Commons

E os autores alertam que ainda existem no sudeste asiático redes criminosas que capturam ilegalmente tartarugas-de-pente e comercializam os produtos derivados ou até mesmo os próprios animais.

O aumento da temperatura do planeta é também um fator de risco. Como outros répteis, o sexo das tartarugas é determinado pela temperatura de incubação dos ovos, sendo que temperaturas mais elevadas geram mais fêmeas do que machos (um fenómeno conhecido como feminização), colocando em risco o potencial de reprodução das populações. Além disso, quanto mais quente, maior será também a taxa de mortalidade dos fetos ou dos recém-nascidos.

Com o aumento da temperatura da areia sob a qual as tartarugas depositam os seus ovos, observa-se uma tendência de feminização das populações, o que poderá pôr em risco o potencial de reprodução das espécies.
Foto: Veronica Joseph / WWF-Australia

A importância da região do Pacífico ocidental para as tartarugas-de-pente

A região ocidental do Pacífico é de extrema importância para a conservação das tartarugas marinhas, uma vez que alberga seis das sete espécies hoje conhecidas, e são já vários os planos e estratégias implementados para atenuar as perdas populacionais.

Contudo, os autores reconhecem a dificuldade da conservação da tartaruga-de-pente, uma vez que, devido à sua natureza migradora, capaz de se deslocar muitos quilómetros pelos mares entre áreas de nidificação e de alimentação, falta um conhecimento robusto e integrado sobre essa espécie que permita proteger eficazmente as suas populações.

As tartarugas-de-pente são tipicamente associadas aos recifes de coral e podem ser encontradas em praticamente todos os oceanos tropicais, pelo que os especialistas consideram que a compilação de dados e informação sobre a biologia, ecologia e distribuição da espécie é fundamental para preencher as lacunas que impedem uma conservação efetiva, e necessária. Além disso, há indícios de uma conectividade significativa entre as várias populações, pelo que saber em que moldes ela acontece é fundamental para os esforços de gestão dessa espécie.

“Um esforço regional coordenado para a conservação das tartarugas-de-pente através de esforços colaborativos, de ligações entre os países e do intercâmbio de informação aos níveis nacional, regional e global é necessário para a recuperação das populações de tartarugas-de-pente”, avisam os autores da análise.

Para assinalar o Dia Mundial das Tartarugas Marinhas, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), que comemorou este ano o seu 50.º aniversário, recordou que desde 1981, todas as sete espécies conhecidas de tartarugas marinhas estão atualmente incluídas no seu Apêndice I, onde estão listadas todas as espécies ameaçadas de extinção cuja sobrevivência está a ser ou pode vir a ser afetada pela sua comercialização.

Por isso, o comércio desses animais e plantas está sujeito a uma regulação rigorosa para não ameaçar ainda mais a sua sobrevivência. No entanto, regra geral, o comércio destas espécies do Apêndice I é proibido.






Notícias relacionadas



Comentários
Loading...