‘O que é meu é meu. O que é teu é teu’: Drongos sabem distinguir entre os seus ovos e os que são postos ‘à socapa’ pelos cucos
Os cucos-africanos (Cuculus gularis) são conhecidos por depositarem os seus ovos nos ninhos de outras aves, para não terem de despender tempo e energia a criar as suas próprias crias, aos mesmo tempo que asseguram que elas recebem os cuidados de que precisam para chegarem à idade adulta.
Apesar de ser benéfico para o cuco, este tipo de parasitismo pode fazer com que a ave cujo ninho foi invadido divida a sua atenção por mais ovos do que é normal, resultando, por vezes, na negligência das suas próprias crias em prol do pequeno cuco. Além disso, a cria invasora pode matar os pequenos drongos quando eclodirem, para assegurar que recebe toda a comida trazida pelos progenitores.
No entanto, há uma espécie de ave, o drongo-de-cauda-forcada (Dicrurus adsimilis), que não só é capaz de distinguir entre os seus ovos dos do invasor, como os expulsa do seu ninho.
Num artigo publicado esta quarta-feira na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, uma equipa internacional de investigadores revela que os drongos são capazes de identificar os seus próprios ovos através da cor e dos padrões de pequenas manchas que cobrem a casca, e que são praticamente únicas para cada progenitora que os põe.
E esta técnica é tão avançada, dizem os autores, que tem uma taxa de sucesso bastante alta, de quase 94%, mesmo quando os cucos-africanos, por via do mecanismo de seleção natural, aprenderam a pôr ovos praticamente idênticos aos do drongo.
O trabalho foi desenvolvido na Zâmbia, entre os meses de setembro e novembro de 2009, 2010, 2011 e 2019, períodos durante os quais os investigadores identificaram as diferenças, ainda que ligeiras, entre os ovos dos cucos-africanos e dos drongos-de-cauda-forcada. E concluíram que a cor dos ovos de uns e dos outros são quase idênticas e que notaram um esforço por parte dos cucos para imitar os padrões dos ovos dos drongos.
“É incrível o quão perfeito o mimetismo é”, confessa Jess Lund, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, e principal autora do artigo, acrescentando que a equipa, durante o trabalho de campo, chegou mesmo a confundir os ovos dos cucos com os dos drongos “porque parecem exatamente iguais”.
Os investigadores explicam que os cucos-africanos não produzem ovos com padrões específicos para cada ninho de drongo, pelo que não apresentar as marcas distintivas, ou ‘assinaturas’, que os drongos desenvolveram para poderem identificar aqueles que são os seus e aqueles que foram colocados no seu ninho pelos cucos.
“Isto significa que por cada ovo de cuco posto, a probabilidade de ser uma correspondência suficientemente boa à ‘assinatura’ do drongo é muito baixa”, refere Lund.