Incêndios ao longo de cursos de água na savana tropical da Austrália ameaçam aves em vias de extinção
De acordo com um estudo publicado no Journal of Applied Ecology, as aves ribeirinhas são muito sensíveis ao fogo. Os incêndios nas zonas ribeirinhas das savanas tropicais do norte da Austrália “afetam o sucesso reprodutivo e a sobrevivência das aves ameaçadas de extinção”.
Segundo a mesma fonte, os incêndios florestais estão a tornar-se mais comuns e mais destrutivos devido às alterações climáticas. Os gestores das terras australianas nas savanas tropicais de monção, altamente inflamáveis, utilizam frequentemente a gestão dos incêndios como estratégia de conservação e de produção de carbono.
Os grandes e destrutivos incêndios florestais “podem ser atenuados através da introdução deliberada de fogo no início da estação seca, quando os incêndios ardem normalmente com baixa intensidade”.
As zonas ribeirinhas são a interface entre a terra e um rio ou ribeiro. “Embora sejam de importância vital para a biodiversidade, as abordagens de gestão do fogo que melhor protegem estas zonas são mal compreendidas”.
O estudo sublinha que as aves ribeirinhas “são muito sensíveis ao fogo”. “O nosso estudo salienta a necessidade de investigação futura para melhorar a nossa compreensão dos impactos do fogo ribeirinho na savana”, afirmou a principal autora do estudo, Niki Teunissen, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Monash, citada em comunicado.
“As zonas ribeirinhas são o lar de uma abundância de vida selvagem e servem de passagem para os animais atravessarem a paisagem e procurarem climas mais frescos”, explica Teunissen acrescentando: “e são bastante vulneráveis ao fogo.”
A equipa de investigação tem vindo a estudar as aves no Santuário de Vida Selvagem Mornington da Australian Wildlife Conservancy As Malurus coronatus, espécie de ave da família Maluridae, vivem em territórios bem definidos, exclusivamente ao longo de rios e riachos, raramente se aventurando fora da zona ribeirinha.
“Há muito tempo que estudamos esta população e, ao seguir o rasto de aves marcadas individualmente, conseguimos reunir uma grande quantidade de informações sobre a sua sobrevivência e reprodução”, afirmou outra autora do estudo, a professora Anne Peters, também da Faculdade de Ciências Biológicas.
De 2011 a 2021, a equipa de investigação estudou a densidade, a sobrevivência, a dispersão e o sucesso reprodutivo destas aves ao longo de 15 km de riachos e rios. Com estes dados, puderam comparar os efeitos do fogo de baixa e alta intensidade no início da estação seca na vegetação ribeirinha e nas aves.
Teunissen afirmou que a população foi afetada pelo fogo durante mais de 2,5 anos, independentemente da intensidade. Este foi o caso para o fogo de baixa intensidade porque o sucesso reprodutivo “diminuiu durante e imediatamente após o fogo”. No caso do fogo de alta intensidade, “isto deveu-se ao facto de as aves adultas morrerem durante os 2-8 meses após o fogo (mas não durante o próprio fogo)”.
“Os resultados do nosso estudo podem ser utilizados para melhorar as estratégias de gestão dos incêndios nas savanas tropicais, uma vez que as Malurus coronatus representam um indicador biológico da saúde das zonas ribeirinhas”, revela Teunissen.
“Apelamos aos gestores de incêndios e aos cientistas para que deem mais atenção aos efeitos do fogo no habitat ribeirinho”, concluiu.