Focas praticam distanciamento social para evitar disseminação de doenças
Durante os tempos mais duros da pandemia de COVID-19, as palavras ‘distanciamento social’ entrou no vocabulário de praticamente todas as sociedades humanas. A prática era considerada, além dos confinamentos e da vacinação, como uma das formas mais eficazes de evitar o contágio e de travar a propagação do patógeno.
Mas, aparentemente, o Homo sapiens não é a única espécie a recorrer a essa tática. Uma nova investigação revela que também as focas no Mar do Norte mantêm a distância umas das outras para evitar a disseminação de doenças nas suas populações.
Num estudo divulgado recentemente na revista ‘Royal Society – Open Science’, os investigadores descobriram que as populações de foca-cinzenta (Halichoerus grypus) e de foca-comum (Phoca vitulina) também praticam o distanciamento social, embora de formas diferentes.
Através da recolha e análise de fotografias das colónias recolhidas por satélites, a equipa, liderada por cientistas dos Países Baixos, verificaram que as focas-comuns tendem a manter uma distância maior dos seus vizinhos do que as focas-cinzentas.
Os autores do trabalho sugerem que essa maior distância reflete uma resposta evolutiva surtos de doenças que no passado terão devastado colónias de focas-comuns no Mar do Norte. Entre 1988 e 2002, dois surtos de um vírus chamado PDV terão reduzido em metade as colónias da região, embora as populações de focas-cinzentas tenham saído praticamente ilesas do evento.
A especialista em ecologia marinha Anne Grundlehner, do Centro de Investigação Marinha de Wageningen e uma das autoras, considera que “as focas-comuns parecem ser menos resistentes a vírus respiratórios do que as focas-cinzentas”, pelo que “é possível que as maiores distâncias que vemos nas focas-comuns reflitam uma resposta evolutiva à suscetibilidade da espécie aos patógenos”.
Apesar de as colónias de focas poderem ser avistadas a partir do Espaço, é preciso conhecer muito bem os padrões de dispersão das focas nas suas colónias para ser possível identificar a espécie. Mas os cientistas dizem que estas diferenças no distanciamento mantido entre os indivíduos destas duas espécies de pinípede, um tipo de ‘impressão digital’, são uma forma eficaz de distinguir as focas-comuns das focas-cinzentas, mesmo a vários quilómetros de altitude.
As imagens de satélite são especialmente valiosas para estudar grupos de animais em regiões remotas que não permitem o acesso direto por parte dos investigadores, como no Ártico, e permitem uma monitorização quase constante das populações.