‘Jardim dos polvos’: Cientistas desvendam mistério de concentração de polvos em chaminés submarinas
Há cinco anos, um grupo de investigadores verificou que milhares de polvos, da espécie Muusoctopus robustus, estavam a depositar os seus ovos no fundo do mar, ao largo da costa da Califórnia, nos Estados Unidos da América (EUA), perto de chaminés submarinas, que emanam calor vindo do interior do planeta.
A concentração de cefalópodes intrigou a comunidade científica, bem como entusiastas da vida marinha. Desde a descoberta, investigadores têm procurado desvendar o mistério, e cientistas do Instituto de Investigação do Aquário da Baía de Monterey (EUA) lideraram a demanda, recorrendo a ferramentas de alta tecnologia, como submarinos não-tripulados, para perceberem o que torna esse local tão atrativo para os polvos.
Num artigo divulgado esta semana na revista ‘Science Advances’, explicam que esses invertebrados usam o que é agora conhecido como o ‘jardim dos polvos’ como local de reprodução e como berçário. E sugerem que o calor exalado pelas fontes termais submarinas acelera o desenvolvimento dos ovos, algo que, dizem, aumenta a probabilidade de sobrevivência das crias.
Segundo estes especialistas, o ‘jardim dos polvos’, a 3.200 metros abaixo da superfície do mar e perto da base de um vulcão extinto, é a maior concentração de polvos conhecida até hoje no planeta Terra, estimando-se que nesse local possam viver mais de 20 mil indivíduos.
A presença de polvos adultos de ambos os sexos, bem como de ovos em desenvolvimento e de crias levou os investigadores a concluírem que o local é usado exclusivamente para fins de reprodução, uma vez que não encontraram evidências de polvos de tamanho intermédio nem sinais de alimentação.
A 3.200 metros de profundidade a temperatura marinha tende a rondar os 1,6 graus Celsius, mas no ‘jardim dos polvos’, perto das chaminés submarinas, os cientistas registaram 11 graus. Sendo os polvos animais de sangue frio, que não conseguem regular a sua temperatura interna, a água fria desacelera o seu metabolismo, pelo que o desenvolvimento dos embriões e o período de incubação dos ovos é mais longo. Assim, em águas mais quentes, os embriões desenvolvem-se mais rapidamente.
Para a espécie Muusoctopus robustus, o período de incubação nas águas abissais gélidas foi estimado entre os cinco e os oito anos, ou até mais em alguns casos. Mas no ‘jardim dos polvos’ o tempo médio de incubação não chega aos dois anos.
Uma incubação mais rápida, argumentam os investigadores, reduz o risco de os ovos serem comidos por predadores ou de sofrerem algum dano que afete o embrião.
“Períodos de incubação muito longos aumentam a probabilidade de um ovo não sobreviver”, afirma James Barry, primeiro autor do artigo. Por isso, “ao fazem ninhos em fontes hidrotermais, as progenitoras fornecem uma vantagem à sua descendência”.
Tal como a maioria das espécies de cefalópodes, os polvos M. robustus morrem após a reprodução, o que explica a forte presença de outros animais no local, sobretudo invertebrados e peixes necrófagos, que se alimentam dos cadáveres, que são fundamentais para a manutenção do ecossistema de profundidade.
Barry diz que locais como este têm de ser protegidos, sublinhando que as alterações climáticas, a pesca e a mineração em mar profundo podem comprometer a sobrevivência de várias espécies marinhas.
“Proteger ambientes únicos onde animais das profundezas se juntam para se alimentarem ou reproduzirem é essencial”, salienta o investigador.