Usar a genética para salvar o kākāpō da extinção na Nova Zelândia



O kākāpō (Strigops habroptilus) é uma espécie criticamente em perigo de papagaio notívago que não voa e apenas existe, em meio selvagem, na Nova Zelândia. Segundo estimativas, em 2020 existiam apenas 210 indivíduos, e a população continua ameaçada, sobretudo devido à predação (gatos e mustelídeos) e ao facto de os seus ovos serem muito apetecíveis a roedores, como ratos.

Devido à reduzida dimensão populacional, regista-se uma fraca diversidade genética, que os especialistas dizem que contribui para a queda da fertilidade dos grupos.

O kākāpō é uma espécie de papagaio criticamente ameaçada, endémica da Nova Zelândia.
Foto: Jake Osborne

Para ajudarem a resgatar o kākāpō do precipício da extinção, investigadores da Nova Zelândia, Estados Unidos da América e Alemanha dizem ter concluído o sequenciamento genético de quase toda a população da espécie e que esse ‘mapa’ está a ajudar a gerir a saúde dos S. habroptilus.

O trabalho, liderado por Joseph Guhlin, da Universidade de Otago, permitiu, segundo os autores do artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Ecology & Evolution’, adquirir um conhecimento muito mais profundo sobre a biologia do kākāpō, que não teria sido possível sem a análise do genoma dos indivíduos.

kākāpō.
Foto: Departamento de Conservação da Nova Zelândia / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

E os investigadores acreditam que as ferramentas desenvolvidas para este trabalho poderão ser usadas por todos os investigadores que se dediquem à conservação de espécies ameaçadas.

Andrew Digby, conselheiro científico do Departamento de Conservação do governo neozelandês, e um dos coautores do artigo, considera que “as ferramentas genéticas que este estudo fornece farão uma enorme diferença na conservação do kākāpō”.

O especialista explica que esta espécie de papagaio está especialmente vulnerável a doenças e devido um fraco potencial de reprodução, “pelo que, ao compreendermos as razões genéticas para estes problemas, podemos agora ajudar a mitigá-las”, prevendo o crescimento das crias e a sua suscetibilidade a doenças. Dessa forma, diz Digby, as autoridades de conservação poderão ajustar e melhorar as suas “práticas de gestão no terreno” e “aumentar as taxas de sobrevivência”.

Os ovos e as crias de kākāpō são especialmente vulneráveis a doenças e a predadores, como gatos e arminhos, mas também as ratos que se alimentam dos ovos.
Foto: Mike Bodie/Departamento de Conservação da Nova Zelândia / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

O kākāpō é uma ave exclusivamente vegetariana, com penas de uma cor esverdeada, em adulto, que o ajudam a camuflar-se nas florestas onde vive. Essa é uma adaptação essencial, pois, como não voa, está mais exposto aos predadores, e tem pernas e garras fortes que o ajudam a trepar e a agarrar-se aos troncos das árvores.

Quando atingem a maturidade, os kākāpō machos podem chegar a pesar quase cinco quilogramas, o que faz deles a espécie de papagaio mais pesada do mundo.





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