Alterações climáticas atingem países já fragilizados com mais força. E podem agravar conflitos e mortes



Os países mais frágeis e afetados por conflitos são também os que sentirão mais fortemente o impacto das alterações climáticas, sobretudo por causa da sua localização geográfica e da sua dependência da agricultura.

A conclusão é de um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicado esta quarta-feira, em que os autores dizem que esses países albergam cerca de mil milhões de pessoas e perto de 43% da população mais pobre do planeta.

Devido à sua vulnerabilidade a extremos e choques climáticos, esses países “sofrem perdas de PIB mais graves e persistentes do que outros países”, uma vez que “as suas fragilidades subjacentes amplificam os choques”. Por outro lado, os choques climáticos intensificam as fragilidades, como a pobreza e a fome, o que potencia o aumento dos conflitos e das mortes por eles causadas.

“Embora os choques climáticos possam não provocar novos conflitos (pois os conflitos derivam de um complexo conjunto de fatores), podem exacerbar a intensidade dos conflitos onde eles já existam”, escrevem os especialistas, que estimam que, até 2060, o número de mortes devido a conflitos nos países mais fragilizados poderá aumentar 8,5%, ou mesmo 14% nos Estados que registem os maiores aumentos de temperatura.

Os autores estimam que as perdas acumuladas de riqueza nesses países três anos após um evento climático extremo podem chegar aos 4%, comparativamente a 1% noutra regiões do mundo. Numa altura em que todas as previsões apontam para o agudizar das condições climáticas, com temperaturas cada vez mais elevadas e com o agravamento das secas, essas perdas poderão ser ainda maiores, traçando um fosso mais profundo entre esses países e os demais.

Economias mais fragilizadas são as que mais sofrem com as alterações climáticas

Um outro estudo aponta que as economias que estão já sob grande pressão são as que mais sofrem com eventos climáticos extremos, como ondas de calor, cheias e tempestades. Publicado esta quarta-feira na revista ‘Environmental Research Letters’, o artigo liderado por investigadores da Universidade de Potsdam (Alemanha) avança que as crises económicas globais, como a que foi causada pela pandemia de COVID-19, limitam a capacidade das sociedades para enfrentarem choques climáticos.

Sobre a crise pandémica, Robin Middelanis, primeiro autor, explica que “reduz a capacidade económica para fazer face a choques adicionais de extremos climáticos que põem ainda mais pressão sobre sociedades já sob stress”.

Por seu lado, Anders Levermann, outro dos autores, alerta que “é tão fácil quanto perigoso subestimar os impactos económicos de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes”, e salienta que à medida que esses fenómenos intensificam, fruto de um planeta mais quente, “coincidirão com crises económicas não relacionadas com o clima e isso é uma ameaça”.

Para o climatologista, este estudo “demonstra que a mitigação e adaptação aos riscos climáticos não apenas implica proteger as regiões vulneráveis”, mas que também é “de vital importância” reforçar “a resiliência das relações comerciais para atenuar os choques” originados noutras partes do mundo.






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