Populações locais também “têm de ganhar” com os projetos de energia renovável
O diretor de Desenvolvimento de Negócio da Statkraft em Portugal defendeu que municípios e populações locais também têm de ganhar com os projetos de renováveis, porque “ninguém gosta de ter turbinas eólicas ou painéis fotovoltaicos ao lado de casa”.
Em declarações à agência Lusa, em vésperas do primeiro aniversário da entrada no mercado português da produtora de energia renovável norueguesa, João Schmidt destacou a preocupação da empresa em envolver as comunidades locais nos seus projetos.
“Ninguém gosta de ter turbinas eólicas ou painéis fotovoltaicos ao lado de casa, há sempre essa contestação”, apontou o responsável da produtora de energia renovável 100% detida pelo Estado norueguês, que entrou em Portugal em 05 de setembro de 2022 e opera em 21 países.
Segundo o responsável, a empresa está também a dialogar individualmente com alguns municípios, para explicar as contrapartidas que pode dar aos territórios onde pretende desenvolver projetos de energia renovável.
“As comunidades locais, muitas vezes, não querem ter turbinas eólicas, painéis solares ou eletrolisadores ao lado de casa deles, mas nós aí envolvemos as comunidades locais, até numa perspetiva de poderem fazer parte da estrutura acionista da empresa veículo que opera esse projeto”, apontou João Schmidt.
“Temos casos na Alemanha, em Espanha, Países Baixos, Irlanda onde fazemos isso e queremos replicar também essa experiência aqui no mercado nacional”, acrescentou, defendendo que “os municípios têm de ganhar com os projetos e as populações locais também, senão não faz sentido”.
Além do desenvolvimento de projetos nas várias tecnologias das renováveis, a Statkraft atua também como um intermediário no mercado de compra e venda de energia, através de PPAs (‘Power Purchase Agreements’), para assegurar eletricidade a um preço fixo durante vários anos sobretudo a clientes industriais, que não querem estar sujeitos à volatilidade do mercado.
Em Portugal, a empresa adquiriu a produção de eletricidade de três centrais solares fotovoltaicas no centro do país.
De acordo com o responsável, a Statkraft está também a decidir se vai concorrer aos leilões de eólicas no mar (‘offshore’) que o Governo pretende lançar, o primeiro dos quais ainda este ano.
“Estamos a avaliar, estamos a falar com parceiros locais, algumas empresas internacionais com as quais temos parcerias noutros mercados, que já nos abordaram. […] Eu acho que é possível que nesta primeira fase não entremos, mas que entremos na segunda fase, é o mais provável”, adiantou João Schmidt.
Ao fim do primeiro ano no mercado português, a empresa garante que veio “para ficar, para contratar mão de obra portuguesa e para comprar tecnologia também portuguesa”, como aconteceu recentemente, quando adquiriu equipamento à Efacec para um projeto solar no sul de Espanha.
“Estamos em vias de assinar acordos para projetos solares fotovoltaicos e a olhar também para aquisições de projetos eólicos e projetos hidroelétricos”, adiantou João Schmidt.
O objetivo, acrescentou, é ter entre 300 a 500 megawatts (MW) de centrais de energia renovável, estando também a olhar para projetos de hidrogénio ‘verde’, uma tecnologia que está a dar os primeiros passos em Portugal.
Para já, a empresa diz não estar a sentir os efeitos da inflação em Portugal, uma vez que ainda não chegou à fase de construção de nenhum projeto e porque tem a vantagem de usar capitais próprios, não dependendo de entidades financiadoras, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Espanha, onde tem já uma grande operação com uma equipa de mais de 150 pessoas e esse impacto já se faz sentir.
“Em Portugal, se tudo correr bem, a partir de 2024 é possível que comecemos a construção de um projeto eólico”, apontou o responsável.