‘Agricultores da floresta’ em perigo: Comércio online ilegal ameaça calaus nas Filipinas



Os calaus são um grupo de aves endémicas das florestas asiáticas e africanas. Facilmente distinguíveis pelos seus bicos grandes e curvados, são considerados os ‘agricultores da floresta’, porque os seus hábitos alimentares predominantemente frugívoros fazem deles dispersores de sementes e, por isso, parte fundamental da manutenção da saúde e diversidade dos habitats florestais.

Tal como muitas outras espécies pelo mundo fora, os calaus estão ameaçados pela destruição dos seus habitats naturais, pela caça e pelo comércio de animais vivos. E a compra e venda de calaus através da Internet é agora confirmada como uma das grandes ameaças à sobrevivência de populações já sob grande pressão.

Segundo um relatório da organização não-governamental TRAFFIC, que tem como missão combater o comércio ilegal e insustentável de espécies selvagens, nas Filipinas, onde existe uma grande diversidade de calaus, está a crescer o comércio ilegal dessas aves endémicas através de plataformas digitais, como as redes sociais.

Os relatores dizem que o Facebook é a plataforma preferida pelos traficantes de aves nas Filipinas, e que, através da investigação de 20 grupos dessa rede social realizado entre 2018 e 2022, descobriram 143 calaus vivos, de nove espécies diferentes, para venda em 76 publicações distintas feitas por 55 contas únicas.

Exemplo de publicação feita num grupo fechado do Facebook, em que se vende um calau por 16 mil pesos filipinos.
Imagem: Relatório

De entre os animais à venda, os investigadores identificaram o calau-das-filipinas (Penelopides manillae), que representava 73% de todos os indivíduos. Embora esta espécie não esteja classificada como ameaçada, foram encontrados cinco calaus da espécie ameaçada Penelopides panini.

A maior parte dos vendedores foram localizados na região central da ilha de Luzon, a maior do arquipélago filipino, pelo que os autores sugerem que essas pessoas terão capturado os calaus nessa região.

Publicação no Facebook datada de abril de 2023, a vender uma cria de calau. Na mensagem, o vendedor usa código para eludir os algoritmos de segurança da rede social. ‘C1’ significa ‘para venda’ e o símbolo de um envelope indica que os interessados devem contactar o vendedor por mensagem privada.
Imagem: Relatório

Os investigadores salientam também preocupação com o facto de muitas aves que estavam a ser vendidas ilegalmente online eram crias pequenas.

“De uma perspetiva da conservação, esta situação é muito preocupante”, confessa Emerson Sy, um dos coautores do relatório e consultor da TRAFFIC. Segundo o especialista, mais de metade dos animais à venda eram crias que ainda não sabiam voar, “o que significa que estas aves estão a ser capturadas para comércio ilegal quando estão mais vulneráveis”.

Crias de calau à venda online, em publicação detetada em maio de 2022.
Foto: Relatório

De acordo com o relatório, todos os dados recolhidos no decorrer da investigação foram partilhados com o Facebook, que, entre 2020 e 2022, terá eliminado “rapidamente” mais de 1.800 grupos filipinos de comércio de animais selvagens.

Ainda assim, os autores dizem que a remoção de publicações e de grupos online, por si só não chega, pois, ao fechar uma conta, outra surge no seu lugar. Por isso, pedem ação policial mais robusta, consistente e rápida, para que os resultados positivos sejam de longo-prazo.

A análise revela também que, para evitarem serem apanhados pelos algoritmos do Facebook, os vendedores usam códigos nas suas publicações, bem como palavras propositadamente mal escritas e emojis.

“Como se acredita que a maioria dos calaus observados no estudo tenham sido capturados em meio selvagem e todos estão protegidos por legislação nacional e pela CITES [Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens], suspeita-se de que a maioria do comércio observado seja ilegal”, escreve a TRAFFIC, em comunicado.

Os relatores dizem que o comércio online de calaus nas Filipinas está em crescimento, e que, por isso, é preciso atuar rapidamente para evitar perdas populacionais dessas espécies. No relatório, pedem que os habitats naturais dessas aves sejam protegidos contra a caça furtiva e que haja o devido financiamento para a investigação de casos de tráfico e que os culpados sejam legalmente punidos.

Além disso, pedem diretamente ao Facebook que aloque recursos e que reforce a colaboração com grupos de conservação para melhor poder combater o tráfico de animais selvagens na sua plataforma. “Os administradores de grupos de venda de animais selvagens e contas individuais que violem a política do Facebook por venderem espécies ameaçadas devem ser eliminados prontamente, para servirem de dissuasor e para limitar o comércio ilegal de vida selvagem”, salientam.





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