Destruição de habitats e temperaturas elevadas provocam “desaparecimento massivo” de abelhões na Europa
Desde o início do século XX que se tem vindo a assistir a uma tendência de declínio das populações de abelhões um pouco por toda a Europa, fruto da degradação dos seus habitats naturais. No atual quadro das alterações climática, tudo aponta para um agravamento dessa tendência.
Investigadores de várias universidades na Bélgica alertam, num estudo divulgado na ‘Nature’, que entre 38% e 76% das espécies de abelhões que ocorrem no continente e que estão hoje classificadas, em termos de conservação, como ‘Pouco Preocupantes’, perderão, no mínimo, 30% de habitat ecologicamente adequado até 2080.
Por outras palavras, nos próximos 60 anos, muitos mais polinizadores podem vir a aumentar a lista de espécies ameaçadas de extinção, que é já preocupantemente longa.
“O que estamos a ver cada vez mais é um desaparecimento massivo de muitas espécies de abelhões, com as comunidades que são muito menos diversas do que eram há centenas de anos”, salienta Guillaume Ghisbain, primeiro autor e investigador da Universidade de Mons.
Embora sugiram que a Escandinávia poderá vir a tornar-se um ‘refúgio’ para estes artrópodes numa Europa cada vez mais quente, árida e fortemente humanizada, os cientistas dizem, no entanto, que não é possível afirmar com certeza que mesmo nessa região do norte europeu os abelhões estarão a salvo da pressão humana.
Por isso, defendem que é fundamental implementar medidas que mitiguem as alterações climáticas e permitam minimizar os nossos impactos negativos sobre os solos, para que seja possível proteger os abelhões e atenuar, de alguma forma, o ‘apocalipse’ dos polinizadores que já afeta fortemente a biodiversidade na Europa, bem como as sociedades humanas e a produção agrícola da qual dependem.
Se a degradação dos habitats e as emissões de gases com efeito de estufa continuarem elevadas, e a alimentarem as alterações climáticas, os investigadores não afastam a possibilidade de algumas regiões europeias a sul de Helsínquia, na Finlândia, poderem vir a ter condições ambientais demasiados duras para sustentar populações de abelhões.
Dado que cerca de 80% de todas as espécies vegetais que usamos na nossa alimentação estão dependentes, direta ou indiretamente, da atuação de polinizadores, a redução ou mesmo o desaparecimento das populações de abelhões afetarão significativamente o funcionamento das sociedades humanas.
Foi a consciência da dimensão desse problema que levou a Comissão Europeia a apresentar, em janeiro deste ano, um ‘novo pacto‘ para estancar a perda de polinizadores na região, almejando travar e reverter esse “declínio alarmante” até ao final desta década.