Acidificação dos oceanos fragiliza espécies de algas ecologicamente importantes



É provável que a acidificação dos oceanos quase triplique até ao final do século – uma alteração ambiental drástica que poderá afetar espécies marinhas importantes como as algas carnudas, algas que crescem verticalmente e promovem a biodiversidade em mais de um terço da costa mundial.

Para ter uma ideia melhor de como as algas se poderão comportar num oceano em rápida acidificação, uma equipa de cientistas marinhos suecos submeteu uma espécie comum de alga carnuda aos níveis de acidificação esperados para o final do século.

Num estudo publicado a 24 de setembro na revista Current Biology, referem que o aumento da acidificação teve impacto no equilíbrio químico da alga, tornou a sua estrutura e os seus tecidos mais fracos e reduziu as suas hipóteses gerais de sobrevivência.

“As alterações climáticas estão a provocar mudanças sem precedentes nos ecossistemas terrestres e aquáticos devido à emissão de gases com efeito de estufa, incluindo o dióxido de carbono”, escrevem os autores, que trabalham na Universidade de Gotemburgo e no KTH Royal Institute of Technology. “Quase um terço desse CO2 é absorvido pelo oceano, o que tem efeitos profundos nas algas marinhas”, acrescentam.

Algas acidificadas partem-se mais facilmente e morrem com mais frequência

Para testar o impacto que as futuras condições de acidificação dos oceanos terão nas algas carnudas, a equipa cultivou Fucus vesiculosus, uma alga carnuda castanha comum, em água tratada com CO2 dissolvido durante 90 dias. Dissolveram dióxido de carbono suficiente para imitar a quantidade de acidificação que se espera estar presente em 2100, que é quase o triplo da acidificação nos oceanos atuais.

Ao longo da experiência, a equipa observou as algas tanto a um nível visível, medindo o seu crescimento, como a um nível microscópico, observando pequenas alterações na sua estrutura. A equipa também calculou o grau de fotossíntese das algas, analisou a sua composição química, testou a resistência do talo (as folhas e caules que constituem o núcleo da estrutura das algas) e observou a forma como as algas se moviam ou partiam em resposta a tensões mecânicas concebidas para simular ondas (uma métrica denominada “arrastamento”), a fim de verificar se estariam em maior risco de se danificarem ou desprenderem no oceano.

Depois de comparar estes parâmetros com medições efetuadas em F. vesiculosus cultivadas em água do mar não acidificada, a equipa descobriu que a acidificação teve resultados mistos. As algas cultivadas em água acidificada cresceram mais, fotossintetizaram mais eficazmente e não apresentaram um aumento significativo do arrastamento.

No entanto, também observaram que as algas acidificadas tinham uma força reduzida do talo, tecidos menos densos, uma estrutura mais porosa em geral e níveis mais baixos de cálcio e magnésio – nutrientes importantes que contribuem para a força e flexibilidade da estrutura de uma planta. Em geral, as algas acidificadas partiam-se mais facilmente e morriam com mais frequência.

“Os efeitos negativos da acidificação dos oceanos na estrutura dos tecidos e na resistência à rutura das algas marinhas como a F. vesiculosus podem ter efeitos drásticos nos ecossistemas costeiros”, escrevem os investigadores, acrescentando que “tais mudanças podem levar a uma diminuição geral da cobertura de algas marinhas, com os correspondentes efeitos negativos sobre os organismos que dependem desses habitats para alimentação e abrigo”.

A equipa apela a mais investigação para testar se os impactos da acidificação dos oceanos são semelhantes para todas as algas carnudas. “Se este for um mecanismo geral que afeta as algas carnudas, a expetativa é que a acidificação dos oceanos tenha efeitos estruturantes críticos nos ecossistemas de costa rochosa, dada a ampla distribuição e a importância das algas castanhas em um terço das costas do mundo”, conluem.





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