As morsas-do-atlântico estão mais vulneráveis do que nunca ao aquecimento do planeta
Atualmente, existem apenas alguns grupos de morsas-do-atlântico (Odobenus rosmarus rosmarus), reduzidos e isolados uns dos outros. Os impactos de séculos de perseguição humana combinados com o aumento da temperatura na região polar ártica estão a pressionar cada vez mais essa subespécie.
O Ártico está a aquecer a um rimo muito superior à média global, e tudo indica que tal poderá provocar alterações na composição dos ecossistemas marinhos. Algumas espécies conseguirão adaptar-se, de alguma forma, à mudança das condições ambientais, outras nem tanto.
Através da análise de material genético antigo preservado no gelo, uma equipa internacional de cientistas quis perceber como as morsas conseguiram lidar com alterações climáticas no passado histórico da Terra.
Durante a última Idade do Gelo, que terá atingido o seu pico há cerca de 20 mil anos, o Ártico estava coberto por camadas de gelo com vários quilómetros de espessura, pelo que os mamíferos marinhos, como baleias, golfinhos, focas e morsas, tiveram de nadar para regiões mais a sul, com maiores extensões de mar aberto. Quando o clima voltou a aquecer, rapidamente rumaram a norte uma vez mais.
Os cientistas acreditam que essa dispersão causada pelas variações climáticas originou uma maior diversidade genética nas populações de morsas, permitindo à espécie uma maior capacidade de adaptação. Mas a perseguição humana de que foram alvo, para extração do seu marfim, por exemplo, levou mesmo a extinções locais, pelo que os investigadores dizem que a atual diversidade genética que é encontrada nas morsas-do-atlântico é apenas uma pequena parte do que em tempos existiu.
Por isso, alertam que as populações restantes de morsas estão ainda mais vulneráveis ao risco de extinção, devido à aceleração do degelo, à perturbação humana causada pelo aumento do tráfego marítimo no Ártico, à escassez de recursos e à massificação do turismo nessa região.
“À medida que o gelo marinho recua, as populações reduzidas de morsas vão dispersar-se ainda mais em grupos mais pequenos e mais isolados, nos quais o isolamento genético e a reduzida conectividade fazem com que fiquem mais vulneráveis a outros fatores de stress”, avisa Peter Jordan, da Universidade de Lund e um dos autores do artigo publicado esta semana na ‘Proceedings of the Royal Society B’.
Para o cientista, os resultados desta investigação tornam inequívoca “a urgência de se repensar objetivos de conservação para espécies em ambientes marinhos no Ártico que estão em rápida mudança”, para proteger os ecossistemas marinhos de um futuro (talvez não tão distante) em que o Ártico poderá ficar livre de gelo.