Fogos intensos e chuva forte estão a expulsar ornitorrincos dos seus habitats



O período que ficou conhecido na Austrália como ‘Verão Negro’, em que incêndios consumiram grandes áreas florestais entre 2019 e 2020, sobretudo no sul do país, levaram ao desaparecimento de muitos ornitorrincos (Ornithorhynchus anatinus) dos seus locais de ocorrência habitual.

Numa investigação divulgada no dia 3 de outubro na revista ‘Biological Conservation’, cientistas e especialistas australianos revelam que esse icónico mamífero aquático, um dos poucos que põe ovos, terá abandonado os seus habitats que foram fortemente afetados pelos fogos, regressando apenas ao final de vários meses. Segundo os autores, se a área ardida tiver sido posteriormente alvo de chuva intensa, os animais só voltaram mais de um ano depois.

Foto: Josh Griffiths (coautor do artigo) / Universidade de Melbourne

Esta conclusão resulta da recolha e análise de amostras de ADN ambiental, vestígios genéticos deixados pelos ornitorrincos na água, no solo e no ar, que permitem identificar a presença, ou ausência, dos animais. Essa é uma abordagem frequentemente usada para estudar e acompanhar espécies mais esquivas e difíceis de avistar.

Os autores dizem que este é o primeiro estudo de larga-escala que tenta perceber como os ornitorrincos estão a responder ao aumento da frequência e intensidade de fogos florestais e chuvas torrenciais provocados pelas alterações climáticas.

“Assume-se que, por estarem próximos da água, [os ornitorrincos] são relativamente pouco afetados. Embora ainda haja muito trabalho a fazer, a nossa investigação diz-nos que fogos severos seguidos de chuva intensa são a pior combinação para os ornitorrincos”, explica Emily McColl-Gausden, da Universidade de Melbourne e primeira autora do artigo.

Ainda que as chamas possam não matar diretamente esses animais, que usam as suas tocas subterrâneas nas margens dos rios e riachos como refúgio, “quando chove depois de um incêndio, como aconteceu em 2019-2020, solos instáveis, plantas mortas e cinza e detritos podem escoar para os rios e ribeiras”, aponta a investigadora.

Foto: Steven Penton / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

A contaminação desses cursos de água resulta na morte de crustáceos, larvas e outros pequenos invertebrados de que o ornitorrinco depende para se alimentar, obrigando-os a abandonarem o local.

“Ainda que o ornitorrinco possa, eventualmente, regressar, não sabemos qual será o efeito de repetidos incêndios”, que podem afetar a reprodução da espécie e a sobrevivência das suas crias, comprometer a disponibilidade de alimento e destruir as suas tocas.

“Não sabemos se algum dia os ornitorrincos podem deixar a área de vez”, salienta McColl-Gausden, observando que “estudos sistemáticos ajudar-nos-ão a compreender como os ornitorrincos e outras espécies nativas podem estar a ser prejudicadas pelo aumento do número, escala e gravidade dos incêndios florestais, e o que os governos e a comunidade podem fazer para reduzir os efeitos cumulativos de incêndios florestais mais frequentes e intensos”.





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