‘Túneis’ em vedações ao longo das estradas podem ajudar a proteger ocelotes e outros animais selvagens



O ocelote (Leopardus pardalis) é uma espécie de felídeo selvagem nativa da América Central e do norte da América do Sul. Apesar de globalmente estar classificada como sendo ‘Pouco Preocupante’ no que toca ao seu estado de conservação, nos Estados Unidos da América (EUA) a situação é diferente.

Nesse país, estima-se que existam apenas entre 50 e 80 ocelotes, todos concentrados no estado do Texas, isolados da população de maiores dimensões que reside a sul da fronteira norte-americana com o México devido a barreiras humanas, como estradas e urbanizações.

A subespécie texana, a Leopardus pardalis albescens, tem como principais ameaças a caça, a perda de habitat devido ao desenvolvimento urbano e à agricultura, a consanguinidade que reduz a diversidade genética da população e a mortalidade causada por atropelamentos.

Para tentarem quebrar esses obstáculos que foram levantados à espécie pelas atividades humanas, e para que os ocelotes texanos possam conectar-se à população mexicana e, assim, aumentar as suas probabilidades de sobrevivência a longo-prazo, os cientistas acreditam que a solução, ou pelo menos parte dela, poderá estar na forma como as vedações que ladeiam as estradas, e que foram colocadas para reduzir as colisões com animais selvagens, são construídas.

Apesar das boas intenções por detrás dessas vedações, podem acabar por ser ineficientes. Quando os animais selvagens passam por cima ou por baixo delas, em direção à estrada, podem não conseguir arrepiar caminho, aumentando a probabilidade de atropelamento.

Por isso, em 2018 o Departamento de Transportes do Texas criou ‘túneis’ em forma de cone nas vedações, mais largas no lado da estrada e mais estreitas no lado oposto, que permitem aos animais, sobretudo ao ameaçado ocelote, voltarem para trás, ao mesmo tempo que impedem que passem para o lado da estrada.

‘Túnel’ numa vedação que ladeia uma estrada no Texas.
Foto: Artigo

Agora, uma equipa liderada por cientistas da Universidade do Texas, no vale do Rio Grande, que cria uma fronteira natural com o México, avaliou a eficiência dessa medida e percebeu, através de imagens recolhidas por dispositivos colocados nas vedações, que muitas outras espécies selvagens usam esses ‘túneis’.

“Antecipámos que a extrema raridade do ocelote limitaria a quantidade de dados recolhidos sobre essa espécie. Por isso, também nos focámos nos mais comuns coiotes e lince-pardo, uma vez que têm hábitos, dietas, dimensões corporais e comportamento semelhantes aos do ocelote”, explica Kevin Ryer, um dos principais autores de um artigo publicado recentemente na revista ‘Frontiers in Ecology and Evolution’.

Ao analisarem as imagens, os investigadores verificaram que 10 espécies diferentes de mamíferos usavam as passagens criadas nas vedações, desde lebres e opossuns, passando pelos coiotes, linces, doninhas, guaxinins, tatus e até tartarugas.

Embora até à data de publicação do artigo os cientistas não tenham captado imagens do esquivo ocelote a usar os ‘túneis’, conseguiram fotografias e vídeos do felídeo nas imediações de uma autoestrada. E acreditam que se os coiotes e os linces usam as passagens nas vedações, os ocelotes provavelmente também o farão.

Ocelote (Leopardus pardalis) captado por dispositivo de videovigilância perto de uma autoestrada no Texas.
Foto: University of Texas Rio Grande Valley

Ainda assim, pedem mais esforços para encontrar medidas de mitigação da mortalidade por atropelamento de espécies de maiores dimensões, como cervídeos e porcos selvagens, que não conseguem usar os ‘túneis’.

Para Richard Kline, outro dos autores do estudo, a implementação de medidas de mitigação de colisões com animais selvagens é mais barata durante a fase de construção das autoestradas, do que depois de as vias estarem concluídas.

“Apesar de toda a comunidade de vida selvagem perto das autoestradas dever ser considerada aquando do planeamento da mitigação, as espécies ameaçadas devem ser o foco”, salienta o investigador.





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