Onde fica a cabeça de uma estrela-do-mar? Cientistas finalmente resolvem “mistério zoológico”
As estrelas-do-mar são animais que pertencem ao grupo dos equinodermes, juntamente com os ouriços-do-mar. Com o seu corpo achatado e com cinco braços, essas criaturas são protagonistas das paisagens marinhas, desde as regiões costeiras a zonas mais afastadas em mar aberto.
Ao contrário de muitos outros animais, que têm corpos formados num plano bilateral – têm um lado esquerdo e um lado direito –, os equinodermes apresentam um plano corporal penta-radial, ou seja, um corpo dividido em cinco partes simétricas.
Agora, num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature’, uma equipa de cientistas de universidades dos Estados Unidos da América e do Reino Unido revela que a estrela-do-mar não tem a sua cabeça em apenas um sítio, mas as estruturas que a compõem estão localizadas no centro do seu corpo, bem como no centro de cada um dos seus cinco membros. Assim, os braços da estrela-do-mar são, na verdade, extensões da sua cabeça.
Posto de outra forma, a estrela-do-mar é, na prática, uma só espécie de cabeça, sem corpo, com uma boca virada para o solo, um ânus orientado para cima e cinco projeções que a ajudam a deslocar-se de um lado para o outro.
“A resposta é muito mais complicada do que esperávamos”, confessa Laurent Formery, primeiro autor do estudo. Para deslindar o mistério da localização da cabeça da estrela-do-mar, os investigadores recorreram ao mapeamento genético e molecular de estrelas-do-mar da espécie Patiria miniata para identificarem as diferentes regiões do seu corpo.
Embora as estrelas-do-mar e os humanos, bem como outros vertebrados, pertençam ao mesmo grupo dos deuterostómios, e, por isso, partilhem um mesmo antepassado comum, o desenvolvimento e evolução dos seus corpos e ciclos de vida seguiram caminhos bem diferentes.
No caso das estrelas-do-mar, nascem de ovos fertilizados como larvas que flutuam nas correntes marinhas, com uma forma corporal bilateral. À medida que se vão desenvolvendo, acabam por se instalar no leito oceânico, uma fase em que atravessam uma metamorfose extraordinária que os transforma nos animais peculiares que são.
“Durante séculos este tem sido um mistério zoológico”, reconhece Christopher Lowe, outro dos principais autores do artigo. “Como é que se passa de um plano corporal bilateral para um plano penta-radial, e como é que se pode comparar qualquer parte da estrela-do-mar ao nosso próprio plano corporal?”, lança o investigador.
Os cientistas consideram que a investigação científica tende a focar-se, regra geral, em grupos de animais que são semelhantes a nós, humanos, e que essas abordagens podem deixar de lado descobertas importantes sobre a evolução da vida na Terra.
“Existem 34 diferentes filos de animais a viverem no planeta e durante cerca de 600 milhões de anos todos eles criaram soluções diferentes para os mesmos problemas biológicos fundamentais”, explica Lowe.
Para o investigador, “a maioria dos animais não tem sistemas nervosos espetaculares nem anda por aí a caçar presas”. Ao invés, “são animais modestos que vivem em tocas no oceano” e, geralmente, as pessoas “não mostram grande interesse” por eles, ainda que muitos deles possam esconder as respostas para o início da vida na Terra.
“A nossa investigação mostra que o plano corporal dos equinodermes evoluiu de uma forma muito mais complexa do que antes pensávamos e que há ainda muito para aprender sobre estas criaturas intrigantes”, aponta Jeff Thompson, outros dos cientistas que assina o artigo.
“Como alguém que passou a última década a estudá-los, estes resultados mudaram radicalmente a forma como eu penso sobre este grupo de animais”, declara.