Opinião: A sustentabilidade em 1995



Em 1995, verdade seja dita, a sustentabilidade ainda era uma miragem para grande parte da população mundial (então ainda éramos 5,6 mil milhões, bem longe dos actuais 7 mil milhões).

Ainda que o ano não tenha ficado marcado por nenhum acontecimento sustentável em particular, alguns marcos históricos tinham já sido atingidos. Estávamos na fase da abundância – na Europa e América do Norte –, mas Gro Harlem Brundtland, uma política, médica e diplomata norueguesa já tinha liderado a chamada Comissão Brundtland, que definiu o conceito de desenvolvimento sustentável.

Foi em 1987 que o relatório elaborado por essa comissão, denominado Our Common Future (O nosso futuro comum) estabeleceu a evolução para a (então) economia ecológica como fulcral para o futuro do Planeta.

O relatório foi o culminar de 900 dias de diálogo internacional que catalogou, analisou e sintetizou as ideias, opiniões e testemunhos de governantes, cientistas, investigadores, institutos de pesquisa, industriais, representantes de ONGs e do público em geral. Sobre a (futura) economia verde.

O relatório critica o modelo de desenvolvimento adoptado pelos países desenvolvidos e industrializados, reproduzido pelas nações em desenvolvimento, que visam a utilização excessivo dos recursos naturais sem pensar nos ecossistemas. Finalmente, ele apontou, pela primeira vez, a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo (então) vigentes.

Cinco anos depois, outro marco da sustentabilidade: a cimeira da Terra, que se realizou em 1992, no Rio de Janeiro – e antecessora do Rio+20, que se realizou, precisamente, para celebrar o Rio-92.

Esta conferência reuniu mais de 100 chefes de Estado e consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo contribuído para o aumento da notoriedade de temas como as alterações climáticas, biodiversidade ou desertificação.

Foi também na Rio+92 que se reconheceu a necessidade dos países em desenvolvimento em receber apoio financeiro e tecnológico para caminharem na direcção do desenvolvimento sustentável.

As empresas, muitas delas em fase de internacionalização para outros continentes e de grande expansão nos mercados locais, ainda não pensavam em sustentabilidade. Os recursos pareciam inesgotáveis, as tecnologias verdes eram inexistentes e os departamentos de sustentabilidade, quase sempre, uma motivação futurista.

Em 1995 ainda não se falava de economia verde – quanto muito, alguns cientistas e economistas falavam de uma economia ecológica –, mas as ONGs, sobretudo as ambientais, estavam em grande.

Em Portugal, a Quercus celebrava dez anos e destacava-se pela sua cada vez maior presença na comunicação social e luta pela mudança de mentalidades. Lá fora, a Greenpeace continuava a sua luta contra a decisão francesa de retomar os testes nucleares no atol da Moruroa, onde dez anos antes os serviços secretos franceses afundaram o navio Rainbow Warrior, propriedade da Greenpeace, uma acção que culminou na morte de Fernando Pereira, o fotógrafo holandês de origem portuguesa.

A WWF, por seu lado, revia a sua missão para “acabar com a degradação do ambiente natural do Planeta e construir um futuro em que os seres humanos vivam em harmonia com a natureza”.

A associação comprometia-se então a lutar pela conservação da diversidade biológica do planeta, garantir que a utilização dos recursos naturais e renováveis é sustentável e promover a redução da poluição e consumo em excesso.

A internet, então incipiente, dava os primeiros passos. O eBay foi lançado no mesmo dia do Sapo, e uns meses antes já o Yahoo coordenava as primeiras pesquisas na Web. A evolução tecnológica foi um bálsamo para a mudança de mentalidades e aumento da notoriedade e atenção pela causa verde.

Com o passar dos anos, a internet passou a ser o local de eleição para os activistas verdes trocarem ideias, para as empresas receberem feedback sobre os seus produtos verdes ou, mais recentemente, para empreendedores lançarem os seus projectos sustentáveis.

Nos últimos 17 anos, a internet, a ecologia, economia verde e desenvolvimento sustentável caminharam juntos. Em 2029, ninguém poderá prever o estado do Planeta, mas a internet continuará a partilhar acções e comportamentos, histórias e sustentabilidade. O nosso parceiro Sapo cá estará para as contar.





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