Associação Zero e ANP/WWF congratulam-se com fim de opção Montijo e Portela
A associação ambientalista Zero congratulou-se ontem por ter sido excluída a opção Montijo e Portela para um novo aeroporto na zona de Lisboa, e considerou que obras no atual aeroporto Humberto Delgado só com avaliação de impacto ambiental.
Uma Comissão Técnica Independente (CTI) que avaliou as várias opções para um novo aeroporto pronunciou-se hoje por duas localizações, Alcochete e Vendas Novas, como as mais viáveis, sendo Alcochete a opção com mais vantagens.
Em declarações à agência Lusa Acácio Pires, da Zero, reservou para mais tarde uma posição, após consulta do relatório ontem divulgado, mas salientou que tenha sido excluída a opção Montijo com Humberto Delgado, na Portela, como chegou a estar em debate.
Essa opção iria ter “um enorme impacto” em 30% da zona de proteção especial do estuário do Tejo, salientou, acrescentando que obras no aeroporto Humberto Delgado terão de ser objeto de uma Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), nomeadamente porque o aeroporto está numa zona densamente povoada e está em violação da lei, pelo ruído que emite.
Depois é necessário abolir os voos noturnos e aplicar taxas de ruído que tenham uma relação com os custos que a população tem de suportar, disse Acácio Pires, considerando um “ganho muito importante” que a comissão tenha defendido o fim da Portela quando o novo aeroporto esteja em funcionamento.
Pedro Nunes, também da Zero, disse que a escolha entre Alcochete e Vendas Novas será política e disse que em qualquer dos casos o aeroporto da Portela “tem de fechar”, até porque não cumpre a lei quanto aos níveis de ruído.
A propósito do anúncio de ontem a Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA), em comunicado, considerou que soluções a sul do Tejo não são viáveis e que Portela com Santarém era a “única solução defensável”.
Na solução Alcochete tem sido falada a eliminação de 250.000 sobreiros, além de se localizar “sobre o maior lençol freático da península e de ser um leito de cheia facilmente inundável com a ocorrência de chuvas fortes, um fenómeno cada vez mais provável”, avisou.
A CPADA deixa dúvidas sobre a necessidade de um grande aeroporto, apresentando uma lista de aeroportos que fracassaram nas últimas décadas, dois deles em Espanha (Dom Quixote e Castellon), e concluindo: “grandes aeroportos que não servem uma vasta população são economicamente inviáveis e têm um custo ambiental inaceitável”.
ANP/WWF pede o rápido fim dos voos noturnos na Portela
A associação ambientalista ANP/WWF também se congratulou com a exclusão da opção Montijo para um novo aeroporto na região de Lisboa, que considerava uma alternativa inviável ambiental e legalmente, e pede o rápido fim dos voos noturnos na Portela.
Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP/WWF (Associação Natureza Portugal, em colaboração com a internacional ´World Wide Fund for Nature´), sublinhou que o trabalho da CTI foi feito em liberdade e de forma aberta e transparente, e disse que na escolha terá de se ter em conta o ruído em áreas urbanas, a preservação de áreas protegidas, os corredores de aves migradoras e o risco de inundação permanente.
A associação lembra que um aeroporto no centro de Lisboa afeta 400.000 pessoas e apela a que seja imposta “o mais rapidamente possível a proibição de voos entre a 01:00 e as 05:00” e a proibição de voos mais ruidosos entre as 23:00 e as 07:00, de acordo com o relatório de voos noturnos feito pela Assembleia da República.
E qualquer adaptação ao aeroporto Humberto Delgado, na Portela, deve ser sujeita a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e acompanhada do cumprimento dos planos de ação e gestão de ruído obrigatórios por lei.
A sugestão de manter o aeroporto de Lisboa nas duas opções estratégicas (Alcochete e Vendas Novas), até que se evolua para uma solução única, merece da ANP/WWF preocupações, pelos impactos na saúde de residentes e trabalhadores nas zonas do Aeroporto Humberto Delgado.
A associação apela ao cumprimento do princípio do poluidor-pagador, com a criação de taxas de ruído às companhias aéreas que reflitam os custos do sobrevoo das zonas urbanas de Lisboa, Loures e Almada, e apela ainda ao reforço do investimento nas ligações ferroviárias, para cumprir a estratégia europeia para a mobilidade inteligente e sustentável, eliminando até 2030 a necessidade de voos de curta distância.