Previsão das escolhas baseadas nas preferências dos outros é transcultural e exclusivamente humana
Crianças de todas as culturas conseguem antecipar as escolhas de outros indivíduos com base nas suas preferências, de acordo com um estudo publicado na revista de acesso livre PLOS ONE por Juliane Kaminski da Universidade de Portsmouth e colegas. No entanto, os grandes primatas não humanos parecem não ter esta capacidade.
Compreender as crenças, os desejos e as preferências dos outros é conhecido como “teoria da mente”, mas ainda não se sabe se esta capacidade é exclusiva dos seres humanos.
Os investigadores investigaram se as crianças e os grandes símios não humanos conseguiam prever as escolhas alimentares dos outros com base nas suas preferências. Testaram 71 crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 11 anos, da Namíbia, Alemanha e Samoa, e 25 grandes símios de quatro espécies: chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos.
As crianças e os macacos foram emparelhados com um concorrente humano adulto, que indicou uma preferência alimentar que coincidia ou diferia da sua. Foi pedido a cada participante que escolhesse uma de três recompensas alimentares, depois de o seu concorrente ter feito uma seleção em privado.
As crianças não escolheram a sua opção preferida quando emparelhadas com um concorrente que partilhava a sua preferência, maximizando assim a hipótese de a opção escolhida ainda estar disponível. Mas selecionavam o seu alimento preferido quando a preferência do concorrente era diferente da sua. Em contrapartida, os grandes primatas tendiam a escolher a sua opção preferida, independentemente da preferência do seu concorrente.
Estes resultados apoiam a hipótese de que o reconhecimento das preferências dos outros, mesmo quando são diferentes das nossas, é uma caraterística exclusivamente humana. Os investigadores descobriram que as crianças de diversas sociedades consideravam as preferências dos seus parceiros, o que indica que esta faceta da teoria da mente na infância é notavelmente robusta à influência cultural.
De acordo com os autores, o estudo sugere que a capacidade de compreender que os outros podem ter preferências diferentes e de ter esse facto em conta na tomada de decisões é universal nos seres humanos e independente da cultura.