Quanto mais pessoas viverem nas cidades, mais difícil pode ser gerir os resíduos produzidos



Estimativas das Nações Unidas apontam que, em 2050, a população humana a viver em cidades será 68% do total mundial. Atualmente cifra-se nos 55%, mas tudo indica que o êxodo das zonas rurais para os centros urbanos deverá intensificar-se nas próximas décadas.

Mais pessoas a viverem nas cidades significará uma maior produção de resíduos, lançando desafios sobre os sistemas de gestão urbanos e sobre a concretização de um verdadeiro ‘desenvolvimento sustentável’.

Um grupo de investigadores analisou mais de mil cidades em todo o mundo para perceber como o aumento das suas populações afetou a geração de resíduos, desde os resíduos sólidos urbanos às águas residuais, passando pelas emissões de gases com efeito de estufa.

“Enquanto sociedade, tendemos a ignorar o lado desagradável da nossa produção”, afirma, em comunicado, Mingzhen Lu, da Universidade de Nova Iorque e primeiro autor do artigo publicado recentemente na revista ‘Nature Cities’.

A investigação revelou que a produção de resíduos sólidos urbanos aumentará proporcionalmente ao aumento da população citadina, uma vez que “estão associados ao consumo individual”, pelo que, quanto mais pessoas, mais resíduos sólidos urbanos.

Mas no que toca às águas residuais, a tendência será muito superior. Segundo os especialistas, à medida que aumenta o número de pessoas a viverem nas cidades, o volume de águas residuais aumentará “a um ritmo mais rápido do que o linear”, ao contrário dos resíduos sólidos.

Contudo, mais pessoas nas cidades não implicará necessariamente um aumento proporcional das emissões de gases com efeito de estufa. Ou seja, se a cidade duplicar o número de habitantes, o aumento das emissões será menos do dobro, o que os investigadores chamam de um crescimento sublinear, explicando que tal se deverá a uma maior eficiência, por exemplo, dos transportes públicos.

Com base no estudo das tendências populacionais de milhares de cidades e dos impactos do aumento do número de habitantes, concluem que “a eficiência energética dos sistemas de transporte público aumenta com o tamanho da cidade e da densidade populacional devido ao aumento do uso dos transportes públicos”, escrevem no artigo.

Por isso, sugerem que as grandes cidades serão, em média, mais energeticamente eficientes quanto mais pessoas nelas viverem. O mesmo não se aplica à gestão das águas, que será, dizem, menos eficiente enquanto a população urbana cresce.

A par de tudo isso, afirmam que as cidades com os maiores níveis de rendimentos são as que geram mais resíduos, “o que sublinha a forte associação entre a geração de resíduos e o crescimento económico”. Por isso, argumentam que o aumento da produção de resíduos “parece ser uma consequência natural do crescimento económico”.

Como tal, para que as sociedades humanas, a nível global, possam vir a alcançar a neutralidade climática, os autores defendem que é preciso desarticular o crescimento económico da geração de resíduos, e apontam como exemplos a seguir São Francisco, nos Estados Unidos da América (EUA), que produz menos resíduos sólidos urbanos per capita do que qualquer outra cidade norte-americana, e para cidades no Japão, um país que produz um terço dos resíduos sólidos urbanos per capita quando comparado com os EUA.

“Aumentos do [Produto Interno Bruto] frequentemente melhoram a qualidade dos indivíduos que vivem em cidades, por isso precisamos quebrar a associação entre o aumento da prosperidade económica e a produção per capita de resíduos”, apontam no estudo.

Mingzhen Lu considera que “estudar como as cidades produzem resíduos é apenas o primeiro passo”, sugerindo que é preciso “descobrir uma forma de fechar o loop material”. E acrescenta que “os ecossistemas naturais e os seus organismos”, como bactérias e fungos, “descobriram como lidar com os resíduos da natureza durante milhões de anos. Nós também podemos”.





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