Cientistas documentam, pela primeira vez, cogumelo a emergir da pele de uma rã viva
Foi no estado de Karnataka, na Índia, no sopé da cordilheira de Kudremukha, que uma dupla de exploradores se deparou com um grupo de cerca de 40 rãs douradas da espécie Hylarana intermedia. Os anfíbios, endémicos da região, estavam num pequeno charco perto da estrada, alimentado pela água da chuva.
Contudo, algo captou a atenção de Chinmay Maliye, naturalista amador, e de Lohit Y.T., da organização conservacionista indiana WWF-Índia. Uma das rãs, empoleirada num galho, parecia ter algo colado à pele viscosa de tons áureos, no flanco esquerdo. A dupla aproximou-se e, olhando com atenção, percebeu que se tratava de um cogumelo, que brotava diretamente da pele do animal.
Num breve artigo publicado na revista ‘Reptiles & Amphibians’, os autores escrevem que o fungo foi, posteriormente, identificado como pertencendo ao género Mycena, que se sabe ser um organismo saprófito, ou seja, que se alimenta de matéria orgânica morta, como troncos ou folhas, decompondo-a através de enzimas que ele próprio produz.
A relação entre fungos e anfíbios não é novidade. O fungo Batrachochytrium dendrobatidis, por exemplo, já afetou mais de 700 espécies de anfíbios em todo o mundo. Em 2019, num artigo publicado na ‘Science’, dizia que esse fungo teria já causado a extinção de 90 espécies em todo o mundo e o declínio de várias centenas de outras.
No artigo, os autores dizem que esse fungo “assassino de anfíbios” estará presente, embora em níveis reduzidos, em todos os locais de grande abundância de rãs na Índia.
Quanto a este avistamento insólito, argumentam que “tanto quanto sabemos, nunca antes foi documentado um cogumelo a brotar do flanco de uma rã viva”. O animal não foi recolhido, pelo que não foi possível aprofundar muito mais o conhecimento sobre o que se terá passado e sobre que efeitos poderá ter o fungo no seu anfitrião.