Níveis globais de mercúrio nos atuns mantêm-se praticamente inalterados desde 1971
O atum é um dos peixes mais populares na alimentação em todo o mundo, por ser rico em proteínas. Contudo, pode ser um risco para a saúde de quem o ingere, humano ou não, sobretudo por causa da contaminação por mercúrio.
Um dos predadores mais velozes dos mares, o atum alimenta-se de peixes mais pequenos e de crustáceos, que podem estar contaminados com mercúrio resultante de atividades humanas ou de outras fontes antropogénicas. Assim, o mercúrio, que causa graves problemas de saúde, vai subindo na cadeia alimentar até chegar a nós, humanos.
Uma equipa de dezenas de investigadores, num artigo publicado na revista ‘Environmental Science & Technology Letters’, da Sociedade Americana de Químicos, diz que, apesar dos esforços que têm sido feitos nas últimas décadas para reduzir as emissões de mercúrio para o ambiente, os níveis de mercúrio nos atuns parecem não ser sofrido quaisquer alterações ao longo dos últimos 53 anos.
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, as principais fontes de emissão de mercúrio para o ambiente são “a incineração de resíduos, combustão de carvão e como resultado da produção de baterias e componentes metálicos”.
Os investigadores procuraram perceber se a redução das emissões atmosféricas de mercúrio resultou numa redução desse metal tóxico nos oceanos, especialmente do metilmercúrio, uma forma ainda mais tóxica que é encontrada no marisco e no peixe marinho, incluindo o atum.
Para isso, estudaram dados recolhidos durante o último meio século para perceber a evolução dos níveis de mercúrio nos atuns, bem como analisaram amostras de tecidos de peixes capturados no Pacífico, no Atlântico e no Índico.
Focaram-se sobretudo em três espécies tropicais de atuns: o atum-bonito (Katsuwonus pelamis), o atum-patudo (Thunnus obesus) e o atum-albacora (Thunnus albacares). Em conjunto, estas espécies representam 94% de todo o atum pescado globalmente.
O estudo revelou que os níveis de mercúrio nessas espécies mantiveram-se particamente inalterados entre 1971 e 2022 ao longo dos três oceanos, com exceção de um aumento registado no Pacífico noroeste no final da década de 1990. Contudo, os dados indicam que as emissões atmosféricas de mercúrio terão diminuído durante esse mesmo período.
Essa discrepância levou os investigadores a sugerirem que a manutenção dos níveis de mercúrio nos atuns se pode dever à subida, ao longo da coluna de água, de mercúrio que tenha estado aprisionado no fundo do mar, contaminando as águas tropicais mais superficiais onde esses predadores vivem e caçam.
Os modelos matemáticos usados pelos cientistas sugerem que mesmo as políticas mais restritivas no que toca a emissões de mercúrio só começariam a mostrar alterações nas concentrações oceânicas do metal entre 10 e 25 anos depois, e que os níveis nos atuns só começariam a cair décadas mais tarde.
Por isso, defendem que, para ser possível reduzir significativamente o mercúrio em espécies de peixes com grande valor comercial, como os atuns, “são precisas reduções agressivas de emissões e a monitorização contínua e a longo-prazo do mercúrio na biota marinha”.