ONU diz que só o multilateralismo pode resolver a “tripla crise planetária”



A dirigente da ONU Inger Andersen alertou que o multilateralismo é a única maneira de resolver a “tripla crise planetária”, numa referência às mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição que o planeta está a enfrentar.

Em entrevista à agência espanhola Efe, por ocasião da 6.ª Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-6) que decorre em Nairobi, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) pediu que “o mundo inteiro avance para soluções multilaterais”, porque as decisões “não estão no caminho certo em muitas das crises ambientais”.

Estas preocupações fazem parte do próprio lema da UNEA-6, que decorre até 1 de março: “Ação multilateral eficaz, inclusiva e sustentável para enfrentar as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição”.

A reunião junta mais de 5.000 representantes dos governos, da sociedade civil e do setor privado, para discutir temas como pesticidas, fenómenos climáticos, o aumento da desertificação ou a poluição atmosférica.

Embora as resoluções da UNEA – que inclui os 193 Estados membros da ONU – não sejam juridicamente vinculativas, são vistas como um primeiro passo para acordos ambientais globais e formulação de políticas nacionais.

“A verdade é que todos nós precisamos de avançar em conjunto. E é para isso que servem os acordos multilaterais sobre o ambiente”, sublinhou a política dinamarquesa, salientando que o ambiente não tem fronteiras: “Se respiram ar sujo, provavelmente eu também estou a respirar ar sujo. Estamos juntos neste pequeno planeta. O meu plástico é a vossa poluição plástica”.

Uma deriva populista dos Estados mais desenvolvidos e o aumento de conflitos armados preocupam Inger Andersen, que não quis comentar diretamente o risco de uma vitória de Trump nos Estados Unidos e o seu impacto no combate global às alterações climáticas.

Mas “é evidente que temos de estar muito conscientes. E encorajo todos os eleitores, onde quer que estejam, a levarem os seus netos ou bisnetos (…) às urnas e a pensarem no futuro”, defendeu.

Na sua opinião, o ambientalismo “não é uma questão de esquerda ou de direita”, mas “uma questão de justiça intergeracional e de sustentabilidade a longo prazo”.

Em Nairobi, a responsável pelo departamento de Oceanos e Assuntos Ambientais e Científicos Internacionais da diplomacia dos EUA disse esperar que os problemas ambientais do continente africano sejam discutidos.

Jennifer Littlejohn, que chefia a delegação dos EUA na Assembleia, referiu que a qualidade do ar “será uma questão fundamental para os EUA”, defendendo “uma maior cooperação regional em matéria de poluição atmosférica”.

“Como todos sabemos, a poluição atmosférica não para nas fronteiras internacionais, pelo que o apoio à colaboração para além das fronteiras nacionais é fundamental para resolver este problema”, afirmou, adiantando algumas das propostas norte-americanas.

“Vamos lançar na UNEA aquilo a que chamamos a Aliança contra os Crimes contra a Natureza”, disse Littlejohn, sublinhando a importância de “todas as pessoas, especialmente os povos indígenas e outras comunidades marginalizadas, terem voz” nos debates e nas soluções.

“Estas são as pessoas que têm sido frequentemente afetadas pelas alterações climáticas e pela degradação ambiental”, acrescentou, em conferência de imprensa.

A pesca ilegal e não declarada é outro desafio em que os EUA estão a trabalhar ativamente com parceiros em África, afirmou.

“É uma questão crítica no continente, e os EUA reconhecem as regiões costeiras africanas dos oceanos Atlântico e Índico como regiões prioritárias na luta contra a atividade de pesca ilegal”, acrescentou.





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