Rio Mekong é um dos mais biodiversos do mundo, mas um quinto das suas espécies corre risco de extinção
O rio Mekong é o maior rio do sudeste asiático, estendendo-se por mais de 4.000 metros, nascendo nos planaltos gelados do Tibete e desaguando no Mar do Sul da China, no Vietname. Contém cerca de 1.100 espécies de peixes, fazendo dele o terceiro rio mais biologicamente diverso do mundo, atrás do Amazonas e do Congo.
Contudo, um relatório da organização conservacionista WWF, em colaboração com dezenas de outras associações, revela que cerca de 19% das espécies de peixes do rio Mekong estão ameaçadas de extinção, sendo que 18 delas estão já ‘Criticamente em Perigo’, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Por outro lado, para 38% das espécies não existem ainda dados suficientes que permitam avaliar o seu estado de conservação, pelo que os especialistas sugerem que o número de espécies ameaçadas poderá ser bem mais elevado.
Entre as principais ameaças à biodiversidade do rio Mekong estão a fragmentação dos seus afluentes devido a barreiras artificiais, como barragens hidroelétricas, a pesca excessiva, “a extração insustentável de areia e gravilha para a indústria da construção”, a introdução de espécies invasoras, a degradação e destruição de habitats pela agricultura e urbanização e a poluição. Todas essas pressões, diz o relatório, são agravadas pelos efeitos das alterações climáticas.
Apesar da dimensão dos perigos que os peixes do Mekong enfrentam, os conservacionistas dizem que “continuam a ser desvalorizados e ignorados pelos decisores”.
“O declínio alarmante das populações de peixes no Mekong é um alerta urgente para salvarmos estas extraordinárias – e extraordinariamente importantes – espécies, que são fundamentais não apenas para as sociedades e economias da região, mas também para a saúde dos ecossistemas de água doce do Mekong”, assinala, em comunicado, Lan Mercado, diretor da WWF Ásia-Pacífico.
Salientando que milhões de pessoas dependem dos peixes que nadam nesse rio há milénios, o responsável lamenta que, por causa da inação política, “eles estão a desaparecer”.
Estima-se que as populações de peixes no lago Tonle Sap, o maior do sudeste asiático, e que é alimentado pelo rio Mekong, tenham sofrido perdas de 88% entre 2003 e 2019. No Laos, por exemplo, os peixes do Mekong contribuem para cerca de 13% da riqueza do país, onde em 2023 os golfinhos de água doce (Orcaella brevirostris) foram já dados como extintos.
Os relatores avisam que a perda dos peixes do Mekong poderá provocar o aumento da desflorestação na região, para converter as florestas em áreas agrícolas e em locais de apascentação de gado, para as populações locais poderem compensar a perda de uma importante fonte de alimento e de rendimento.
Apesar do cenário preocupante, os especialistas dizem que nada está ainda completamente perdido. Isto, porque os países que o Mekong atravessa assinaram em 2022, o Acordo de Kunming-Montreal, e, assim, assumiram o compromisso de proteger e restaurar os seus rios, lagos e zonas húmidas.
“A boa notícia é que não é demasiado tarde para restaurar o Mekong e resgatar os seus peixes do limitar da extinção”, afirme Zeb Hogan, diretor da Wonders of the Mekong, um dos grupos que participou na elaboração da análise.