Os flamingos já estão em Portugal



Se quer ver o céu pintado de rosa vá até ao Estuário do Tejo, Ria de Aveiro, Ria Formosa, Estuário do Sado, Castro Marim e Lagoa de Óbidos. A Green Savers falou com Hélder Cardoso, naturalista que nos contou porque nos visitam estas magníficas aves.

Os flamingos regressaram agora à Lagoa de Óbidos? Quanto tempo vão ficar?

Sim, regressaram recentemente à Lagoa de Óbidos e em bons números. Ainda estamos a tentar perceber o padrão de ocorrência na lagoa, mas aparentemente podem ser observados entre julho e outubro e depois em fevereiro.

Qual a razão de escolherem o nosso país? Tem a ver com a alimentação? Portugal é apenas um ponto de passagem…

Portugal oferece condições ideais para os flamingos, principalmente devido à abundância de zonas húmidas ricas em alimentos, como pequenos invertebrados e algas que compõem a sua dieta. Após a reprodução nas colónias localizadas na bacia do mediterrâneo, muitas aves dispersam pelas zonas húmidas adjacentes, caso das localizadas na costa portuguesa, onde vão procurar alimento e locais de repouso.

Em 2021 houve duas colónias — segundo um anúncio feito pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas — que estavam a nidificar em duas Áreas Protegidas sob a gestão do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Foi caso único?

A nidificação de flamingos em Portugal é um fenômeno relativamente incomum, mas não único. A observação dessas colónias em 2021 na Reserva Natural de Castro Marim indica que as condições nessa área protegida foram suficientemente favoráveis para que estes se reproduzissem. Não sei ao certo se essa colónia de Castro Marim continua a reproduzir de forma regular. Noutros locais, nomeadamente no estuário do Tejo e estuário do Sado houve também tentativas, mas sem sucesso.

É verdade que nos anos de maior seca na Península Ibérica ocorre um número maior destas aves no nosso território?

Sim, aparentemente parece ser esse o caso. Durante anos de seca, os flamingos podem deslocar-se para áreas onde ainda encontram água e alimentos em quantidade suficiente. As zonas húmidas portuguesas, por vezes, proporcionam essas condições, atraindo um maior número de aves em anos mais secos.

Quais as espécies que se podem observar em Portugal?

A espécie de flamingo mais comum observada em Portugal é o Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus). Existem também registos de Flamingo-pequeno (Phoeniconaias minor ), contudo não se sabe exatamente a origem destas aves, podendo haver a hipótese de serem aves fugidas de cativeiro, ao invés de serem originárias das populações selvagens, que se distribuem naturalmente em África a sul do deserto do Sara e na India.

Em que zonas do país se podem avistar flamingos?

Podem ser avistados em várias zonas húmidas de Portugal, com destaque para o Estuário do Tejo, a Ria de Aveiro, a Ria Formosa, o Estuário do Sado, Castro Marim e a Lagoa de Óbidos. Estas áreas oferecem as condições ideais para alimentação e descanso destas aves.

No caso da Lagoa de Óbidos qual o melhor spot para os ver?

Na Lagoa de Óbidos, os melhores locais para observar flamingos são as áreas mais calmas e menos perturbadas, como a margem sul da lagoa, perto das zonas de sapal, onde as aves costumam concentrar-se. Nomeadamente, no Braço da Barrosa, na Foz do rio real e na entrada do braço do bom sucesso. Ocasionalmente podem ser observados também nas ilhas de areia no centro da Lagoa.

Que outras espécies se podem observar?

Além dos flamingos, na Lagoa de Óbidos é possível observar várias outras espécies de aves aquáticas, como colhereiros, garças, patos, e limícolas como pilritos e maçaricos. A diversidade de aves é particularmente rica durante as migrações outonais e primaveris.

Está ligado ao projeto Biolagoa de Óbidos, em que consiste e como nasceu?

O projeto Biolagoa de Óbidos visa a monitorização e conservação da biodiversidade da Lagoa de Óbidos. Nasceu da necessidade de preservar este ecossistema sensível, promovendo a sua gestão sustentável e aumentando a conscientização sobre a importância das zonas húmidas. O projeto, neste momento, desenvolve várias atividades, onde podemos destacar: a monitorização mensal dos números de aves aquáticas, com pontos de contagem fixos em redor da lagoa; anilhagem científica de passeriformes de caniçal, ações de sensibilização ambiental para o público escolar e saídas acompanhadas para observação de aves.

O projeto Biolagoa de Óbidos é um projeto de parceria entre várias entidades, coordenado por mim e pela Associação PATO, conta com a parceria imprescindível da empresa Águas do Tejo Atlântico, o Município de Óbidos e o Município de Caldas da Rainha.

As zonas húmidas são dos ecossistemas mais importantes do planeta, mas também dos mais sensíveis e ameaçados, o que se pode e deve fazer para os proteger?

Para proteger as zonas húmidas, é crucial implementar políticas de conservação eficazes, como a criação de áreas protegidas, a restauração de habitats degradados, e a gestão sustentável dos recursos hídricos. Além disso, a educação e sensibilização da população sobre a importância desses ecossistemas é vital para garantir o seu futuro.

 A Lagoa de Óbidos é o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa portuguesa, qual a sua importância?

A Lagoa de Óbidos é de extrema importância ecológica e económica. Ela serve como habitat para uma vasta diversidade de espécies aquáticas e aves, além de ser um importante recurso para a pesca, particularmente os mariscadores, e o turismo local. A sua conservação é crucial para manter a biodiversidade e a sustentabilidade das comunidades humanas que dependem dela.

Algo mais que deseje acrescentar…

A conservação da Lagoa de Óbidos e de outras zonas húmidas deve ser uma prioridade contínua, considerando os desafios impostos pelas alterações climáticas e a pressão humana. A colaboração entre entidades governamentais, cientistas e comunidades locais é essencial para garantir a preservação destes valiosos ecossistemas para as futuras gerações.

 





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