Zonas húmidas podem ajudar a reduzir antibióticos presentes nas águas
Um projeto internacional, que envolveu investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), concluiu que a construção de zonas húmidas e promoção de zonas vegetadas ajudam a reduzir os antibióticos presentes nos ecossistemas aquáticos.
Depois de três anos de investigação, a equipa apresenta hoje os resultados e as soluções baseadas na natureza que ajudam a reduzir os antibióticos, agentes patogénicos e a resistência antimicrobiana nos ecossistemas aquáticos.
Em declarações agência à Lusa, a investigadora Marisa Almeida, do centro da Universidade do Porto, esclareceu que o projeto tinha como principal foco a “remoção de antibióticos e, consequentemente, promoção da boa qualidade das águas” através de soluções baseadas na natureza.
O projeto, intitulado NATURE e coordenado pelo Instituto de Avaliação Ambiental e Investigação da Água, em Espanha, explorou uma série de soluções baseadas na natureza “desde as fontes de poluição urbana até às zonas estuarina e costeira”.
Entre as soluções estudadas, Marisa Almeida destacou as zonas húmidas construídas, isto é, sistemas artificiais que permitem a passagem das águas residuais através de um meio poroso, onde estão também plantadas espécies verdes, que permitem a remoção de poluentes.
Estes sistemas podem servir de “complemento posteriori” às Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), mas também serem uma opção a implementar em zonas onde a densidade populacional é baixa e não existem ETAR, salientou a investigadora.
Marisa Almeida destacou também a importância das zonas vegetadas existentes nas margens de lagos, ribeiras ou estuários no processo de remoção de antibióticos e outros poluentes dos ecossistemas marinhos.
“A ideia é mostrar que estas zonas vegetadas, que já existem, devem estar saudáveis e ser promovidas para remover estes contaminantes”, observou.
Apesar de o foco dos investigadores ser os antibióticos, ao longo do projeto foram quantificados outros contaminantes emergentes e agentes patogénicos, como compostos de “detergentes, produtos de limpeza ou até a cafeína”.
“As concentrações são muito baixas, portanto, não há uma toxicidade aguda. No entanto, há uma contaminação crónica porque as concentrações são constantemente emitidas e é isso que depois cria a resistência”, assinalou.
Marisa Almeida assegurou ainda que as soluções baseadas na natureza exploradas pela equipa “tiveram bons resultados de remoção” e que acabaram por “ir eliminando parte destes compostos”.
A investigadora espera agora que algumas destas soluções, como as zonas húmidas, possam ser implementadas em Portugal.
“Estas zonas começaram há uns anos a ser construídas no país, mas não vingaram, porque apesar de serem sistemas de engenharia precisam de manutenção e não tiveram”, referiu, dizendo esperar que os resultados do projeto impulsionem a sua construção e consequente manutenção no país.
As conclusões do projeto NATURE serão hoje apresentadas no centro da Universidade do Porto, num evento que decorre entre as 09:30 e 13:00.
Financiado pela ERA-NET Cofund Poluentes Aquáticos, o projeto contou com investigadores de Espanha, Portugal, Dinamarca, Alemanha e Mali.