Projeto “LIFE SOS Pygargus” tem 11 ME para salvar o tartaranhão-caçador da extinção
Portugueses e espanhóis reuniram-se em Miranda do Douro para apresentar o projeto ibérico “LIFE SOS Pygargus” dotado de 11 milhões de euros para seis anos, para salvar o tartaranhão-caçador da extinção nos dois países.
“Este projeto é uma abordagem ibérica à problemática dos tartaranhões-caçadores, que são uma ave de rapina com o estatuto de ameaçada e que une 17 parceiros em Portugal e Espanha para salvar esta espécie”, explicou à Lusa José Pereira, presidente da Associação Palombar.
Segundo este biólogo, o projeto é coordenado pela organização não-governamental (ONG) Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, com sede no concelho de Vimioso, no distrito de Bragança, e conta com 17 parceiros, dos quais 13 são entidades portuguesas e quatro são espanholas, incluindo universidades, empresas, ONG, associações ambientais, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e a Comissão de Coordenação Regional do Norte (CCDR-N).
O tartaranhão (Circus pygargus) inclui três espécies de aves de rapina conhecidas em Portugal como tartaranhão caçador, o tartaranhão azulado e tartaranhão ruivo, que se alimentam de pequenos roedores e insetos e que são fundamentais para o controlo das pragas agrícolas.
Segundo o também biólogo, esta iniciativa transfronteiriça une conservacionistas, cientistas e agricultores com o objetivo de salvar o tartaranhão-caçador da extinção em Portugal e na parte ocidental de Espanha, tendo sido aprovado pelo Programa “LIFE” da União Europeia (UE) com um orçamento total de quase 11 milhões de euros, 75% dos quais (oito milhões de euros) financiados pela UE.
O projeto arrancou em setembro em Portugal e Espanha e vai decorrer durante seis anos, até 2030.
“O tartaranhão-caçador, também conhecido como águia-caçadeira, é uma ave que nidifica no solo em áreas abertas. Segundo o primeiro censo nacional da espécie realizado em 2022-2023, a sua população encontra-se em declínio acentuado nos últimos 15 anos e está atualmente em risco de desaparecer, fruto das mudanças nas políticas agrícolas”, referiu João Pereira.
Segundos os técnicos e biólogos da Palombar, os principais objetivos do projeto, nos próximos seis anos, são travar o atual declínio acentuado das populações de tartaranhão-caçador em Portugal e na parte ocidental de Espanha e reduzir significativamente a mortalidade e a destruição de ninhos, com uma meta de redução de 75% na mortalidade e aumento de 50% na população reprodutora.
Ao mesmo tempo, o “LIFE SOS Pygargus” vai adaptar as práticas agrícolas ao ciclo reprodutivo da espécie, promovendo o uso de variedades de cereais e forragens que são mais compatíveis com as suas necessidades biológicas e promover a consciencialização pública sobre a importância da conservação do tartaranhão-caçador, bem como fomentar a cooperação entre Portugal e Espanha para a conservação transfronteiriça desta ave.
O projeto será implementado em 49 Zonas de Proteção Especial da Rede Natura 2000 e áreas adjacentes em Portugal (23) e Espanha (18 na Estremadura, três na Galiza, quatro em Castela e Leão e uma em Madrid), que albergam a maior parte das populações portuguesas e transfronteiriças de tartaranhão-caçador. Estas áreas são essenciais para a sobrevivência e expansão da espécie e para assegurar a conectividade da Rede Natura 2000.
“A iniciativa junta investigadores, agricultores, universidades entidades públicas e privadas e empresas ibéricas num esforço transfronteiriço sem precedentes para conservar esta ave de rapina icónica das searas”, indicou José Pereira.