Consultoras ambientais estão a ajudar grandes empresas a fazer greenwashing, denuncia investigação
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Diversas empresas multinacionais estão a recorrer a consultoras ambientais para mascarar os verdadeiros impactos ambientais de megaprojetos instalados nos países mais pobres, mas biologicamente mais ricos, do hemisfério sul.
A denúncia é feita pela organização ambientalista Climate Whistleblowers, que, em colaboração os órgãos de comunicação social de investigação jornalística Mediapart, Africa Uncensored e Mongabay, revela que as empresas estão a pagar a especialistas em biodiversidade e ecossistemas para “produzirem supostos planos de ação e para fazerem greenwashing de megaprojetos que têm efeitos catastróficos nos meios de subsistência das pessoas e nos ecossistemas frágeis”, avança em comunicado.
De acordo com a organização, o trabalho de investigação, intitulado ‘GreenFakes’, baseou-se em documentos que alegadamente relatam as operações de branqueamento ambiental das empresas, e que mostram, segundo os autores, “como as empresas multinacionais pagaram centenas de milhares de euros para legitimar projetos industriais, particularmente no Sul Global, onde as fracas regulações tornam mais fácil contornar a responsabilização e enganar o público a nível global”.
“A série de investigação GreenFakes revela um padrão de abuso conivente por multinacionais e empresas de auditoria que avaliam o impacto ambiental de megaprojetos”, explica, em nota, Gabriel Bourdon-Fattal, co-diretor da Climate Whistleblowers.
“O futuro dos auditores depende da satisfação dos clientes, por isso não podem ser imparciais. Eles não são pagos para proteger a natureza e as populações vulneráveis, como anunciam, mas para ajudar as empresas a continuarem a fazer o que sempre fizeram”, denuncia o responsável.
Entre as firmas visadas pela investigação estão a Biotope e a The Biodiversity Consultancy, que o coletivo de investigação acusa de “terem ajudado corporações internacionais proeminentes a fazerem branqueamento ambiental de atividades desastrosas” através de avaliações “incompletas” sobre os impactos na biodiversidade e de “planos de ação com medidas ineficientes de redução [de impactos] e de compensação”.
Resultado disso, diz a Climate Whistleblowers, “a TotalEnergies fura em busca de petróleo em parques repletos de elefantes no Uganda, a Rio Tinto arrasa florestas tropicais na Guiné para a exploração mineira”. Ademais, continua a organização, mesmo quando as consultoras ambientais fazem um bom trabalho “os clientes podem simplesmente ignorá-las, como a Chanel fez quando firmou acordos com fabricantes duvidosos na China que não respeitam os direitos humanos”.
Em alguns casos, “as medidas de mitigação propostas [pelas consultoras] eram claramente desadequadas ou absurdas, como pagar os funerais das vítimas de encontros letais com hipopótamos impactados” pelas atividades das empresas.
A Climate Whistleblowers considera que as investigações feitas expõem práticas de prevaricação que “ameaçam ecossistemas e comunidades vulneráveis, enfraquecendo os esforços globais para combater as alterações climáticas”.
Os documentos produzidos pelas consultoras ambientais para empresas “demonstram negligência, senão mesmo conluio entre as consultoras e as multinacionais em projetos em pelo menos sete países, sobretudo em África”, alega este grupo de investigação, acrescentando que “até instituições financeiras internacionais parecem fechar os olhos a planos de ação de compensação insatisfatórios ou mal elaborados”.
Para Henri Thulliez, outro dos co-responsáveis da Climate Whistleblowers, “o jogo está viciado logo desde início”. Para ele, “estas consultoras ambientais ajudam a multinacionais a usar legislação fraca em proveito próprio e a continuarem a dizer que são verdes”.
“É um ciclo vicioso de cinismo: mais lucro para as grandes empresas, desastres ecológicos e humanos no sul global”, lamenta.