Esta espécie de caranguejo pode ser um aliado de peso na sobrevivência dos corais



O branqueamento dos recifes de coral é uma das evidências mais marcantes e visualmente impactantes dos efeitos das alterações climáticas. À medida que a temperatura do planeta aumenta, os mares e oceanos também se tornam mais quentes.

Os recifes de coral, habitats de uma enorme diversidade de vida que rivaliza quase com a que é encontrada nas florestas tropicais em terra, são formados por relações íntimas e interdependentes entre os pólipos coralinos e microalgas que dão cor às estruturas calcárias que formam os recifes. Quando a temperatura é demasiado alta, os corais expulsam as algas e tornam-se brancos, dando-se o branqueamento. Se as condições voltarem rapidamente ao normal, os corais podem voltar a aceitar as algas e sobreviver. Caso contrário, acabarão por morrer.

“As espécies basilares, como os corais, criam a base de um ecossistema”, aponta, em comunicado, Julianna Renzi, da Duke University. “Eles criam estruturas que outras espécies usam como abrigo, modificam o ambiente local e fornecem alimento para outros organismos”, explica.

Num planeta em drásticas mudanças, com os corais a serem só uma de um sem-número de espécies não-humanas que estão a sofrer duramente com os impactos de séculos de poluição e destruição ambiental e ecológica pelas mãos dos humanos, a investigadora e colegas publicaram um artigo na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’ no qual revelam que uma espécie de caranguejo, o australiano Cyclodius ungulatus, pode ajudar a atenuar a pressão sentida pelos corais.

Um caranguejo Cyclodius ungulatus escondido entre os braços de um coral, na Grande Barreira de Coral, na Austrália.
Foto: Devin Rowell

Através de experiências em tanques realizadas em plena Grande Barreira de Coral, na Austrália, os investigadores analisaram as respostas de corais da espécie Acropora aspera a vários fatores de stress. Em alguns tanques, amostras de coral foram sujeitas a ferimentos físicos, outras à presença de algas nocivas ou a temperaturas mais elevadas da água, e noutros colocaram os caranguejos C. ungulatus para perceber que efeitos teriam na saúde dos corais.

Ao longo de um mês, os investigadores foram registando a evolução dos corais, especialmente a perda de tecido, uma resposta típica quando as condições ambientais não são as ideais. E perceberam que a presença das algas e águas mais quentes resultavam em grandes perdas de tecido. No entanto, notaram que nos tanques com caranguejos as perdas de tecido eram muito menores, especialmente em corais com ferimentos.

Em contexto natural, os corais são predados por peixes que se alimentam das suas algas e dos pólipos, criando feridas, que, por sua vez, podem fragilizar o coral e reduzir a sua capacidade para lidar com outros fatores de stress, como o aumento da temperatura.

Nos recifes, os caranguejos C.ungulatus foram observados a evitar o tecido vivo dos corais e alimentar-se, ao invés, de algas que vão colonizando os corais e prejudicando a sua saúde. Um coral ferido terá mais dificuldade em resistir às algas que se vão fixando na sua casa calcária e torna-se, por isso, mais vulnerável.

Os investigadores acreditam que as feridas nos corais libertam um muco que atrai esses crustáceos, que acabam por ajudá-los a livrar-se das algas que lhes drenam a energia.

“Este trabalho mostra que uma parceria biológica intricada [entre coral e caranguejo] aumenta grandemente a capacidade dos corais para resistirem ao stress térmico”, aponta, em nota, Brian Silliman, outros dos autores do artigo.

“Os caranguejos não afetam diretamente a tolerância [dos corais] ao calor”, mas, sustenta o investigador, “parecem remover o stress causado pelas lesões ao limparem as feridas dos corais”.

É uma relação do tipo mutualista, em que ambas as espécies saem a ganhar: os caranguejos alimentam-se das algas que prejudicam os corais e esses últimos veem-se livres de mais uma preocupação e podem direcionar as suas energias para lidar com outras ameaças. Como tal, os investigadores acreditam que projetos de restauro de recifes que incorporem organismos mutualistas, como este caranguejo, poderão ser maiores hipóteses de sucesso.

“Numa era definida pela intensificação de alterações ambientais de dimensão global, é crucial não apenas compreender os impactos de múltiplos fatores de stress em organismos-chave [como os corais], mas também perceber o que poderá ser feito para alivá-los”, escrevem o investigadores no artigo.





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